Sob o domínio da hipocrisia

A palavra hipocrisia está presente no dicionário da vida de algumas pessoas entre nós. Vivemos numa sociedade em que tem aflorado, enormemente, este substantivo feminino, cujo significado é fingimento, falsidade, ou seja, fingir sentimentos que não possui. Nunca nos esqueçamos de que o hipócrita é aquele que oculta a realidade através de uma mascara de aparência, fingindo comportamentos que não são os seus. Uma pessoa hipócrita, muitas vezes, finge possuir boas qualidades para ocultar os seus defeitos, e por isso é também conhecido como uma pessoa dissimulada.

Estou escrevendo sobre este assunto, por causa do texto que nos é apresentado hoje na liturgia, quando as pessoas levaram um paralítico até Jesus para que ELE o curasse. E foi o que, de fato aconteceu. Jesus ordena ao pobre coitado: “Levanta-te, pega a tua cama e vai para a tua casa. O paralítico então se levantou e foi para a sua casa.” (Mt 9, 6-7). O pobre homem deve ter ficado muito feliz, ao retornar para sua casa, sem a a moléstia que o impedia de ter uma vida como a das outras pessoas.

Mas nem todos ali naquele contexto ficaram felizes. Pelo contrário, os doutores da lei, escribas e fariseus, quando viram a atitude de Jesus perante aquela criatura, ficaram indignados, acusando-o de blasfemo. Nem levaram em consideração, o bem que Jesus havia feito àquele homem, libertando-o de passar a vida inteira sobre aquela cama. Na realidade, eles não se conformaram que Jesus assumisse tal postura, pois esta era prerrogativa deles, que se achavam os “especialistas” em realizar aquilo que Jesus acabou fazendo. Em outras palavras, na visão deles, Jesus estava usurpando o lugar que era deles.

Este evangelho nos mostra que Jesus é um homem empoderado, mas não apenas de um poder de, simplesmente de levantar aquele homem daquela cama. Não! Jesus tem poder sobre as doenças, enfermidades, sobre a natureza humana, mas, sobretudo, sobre aquilo que corrói e destrói, que debilita e paralisa a nossa natureza humana. Ele tem o poder de PERDOAR PECADOS. Daí toda a ira dos representantes religiosos daquela época, afirmando que Jesus estava blasfemando contra o próprio Deus, uma vez que estava perdoando pecados.

Jesus foi incisivamente rigoroso com aqueles que carregavam em si a hipocrisia. Se tem uma coisa que ELE não suportava era a hipocrisia, sobretudo na classe dirigente de Jerusalém. Em Mateus nós o vemos pegando pesado com esta gente quando afirma: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça.” (Mt 23, 27-28)

No nosso meio também não é diferente desta realidade vivida por Jesus na Palestina. Vemos cada dia crescer mais as hipocrisias dos tempos de hoje. O Brasil vive hoje um cenário que desafia, em muito, a proposta de Jesus, quando alguns dos seus “seguidores”, têm comportamento semelhante ao dos escribas e fariseus do tempo de Jesus. Governantes inescrupulosos seguem arquitetando a morte dos pobres, com políticas de exclusão social, com o aplauso condescendente de uma casta de pessoas, que não conseguem ver a contradição entre aquilo que elas acreditam, quanto ao seu plano de fé, e o que Jesus tanto insistiu para garantir aos pequenos uma vida mais digna.

Diante deste contexto, não há como não se lembrar da proposta do famigerado “auxilio emergencial”, para as famílias mais carentes de nosso meio. Dinheiro liberado para atender as pessoas mais necessitadas, diante desta pandemia. O governo segue alegando que não tem condições de atender, por muito tempo tal demanda. Mas por outro lado nós sabemos, o quanto de recurso foi designado para atender a rede bancária, que é uma somatória de recurso infinitamente superior, aquela gasta para socorrer quem realmente precisa.

Evidente que não gostaríamos de viver numa sociedade hipócrita. Gostaríamos sim, que as pessoas fossem ao menos, mais transparentes e íntegras. Neste sentido, penso como Albert Einstein que dizia: “Gostaria de uma sociedade mais justa, menos corrupta, com menos hipocrisia, mais digna, com mais amor ao próximo, menos preconceito, menos rancor e principalmente mais paz na alma.”