Evangelho Mt 18,15-20

Irmãos e irmãs, paz e bem!

O Evangelista Mateus organizou seu Evangelho em pregação e ação de Jesus, são os gestos e palavras. Hoje estamos lendo a pregação sobre a comunidade, na qual Jesus ensina muitas coisas. Me aterei ao ensinamento sobre como deve o discípulo proceder se um irmão de comunidade pecar contra esse discípulo. Farei a reflexão tendo por base a comunidade família, pois nesta passagem não está incluso o pecado social. Esse é outro capítulo.

Pois bem, estamos na semana da família, refletindo sobre o tema “eu e minha casa serviremos ao Senhor” Js 24,15. Imaginemos que alguém da casa cometa um grave desamor contra seu próximo mais próximo. Comparo esses sofrimentos causados em nós pelas pessoas com um ferimento. Há ferimentos leves, um arranhão de faca ao cortar uma cebola, por exemplo; há ferimentos mais graves, tais como um corte profundo, uma torção, quebrar uma perna, e por fim ferimentos gravíssimos, que são aqueles que nos colocam em risco eminente de morrer. Pois bem, comparando os sofrimentos que causamos uns aos outros com os ferimentos, podemos dizer que há coisas que ferem o outro ou a nós na relação familiar, mas que são coisas leves, que com um pedido de desculpas ou um pequeno gesto se curam. Há sofrimentos mais graves causados por gestos de desamor que levam mais tempo para sarar, precisam de um empenho maior, de alguns remédios etc. Mas há sofrimentos causados por maldades que ferem o outro ou nos ferem profundamente. Esse tipo de ferimento demora muito para sarar, e quando sara deixa a cicatriz que nos faz lembrar o acontecido às vezes para o resto da vida.

No Evangelho de hoje Jesus diz que para uma ferida causada por um irmão sarar é preciso conversar com ele, dizer a ele que aquela atitude dele causou dor. Mas como é custoso falarmos de nossas dores ao outro. Jesus diz que se esse irmão te ouvir, você ganhou esse irmão. Duas palavras muito interessantes, ouvir e ganhar. Ouvir o outro é uma atitude muito difícil, exige esforço e busca de compreensão. Ouvir significa entender o que o outro está dizendo na perspectiva dele, mesmo que seja diferente da minha. Ocorre que quando ferimos o outro não gostamos de ouvir a dor do outro, pois tem vezes que o ferimos propositalmente. Ou ainda, muitas vezes quando somos feridos pelo outro buscamos puni-lo com nosso silêncio rancoroso, para que o outro sofra por nos ter feito sofrer. Ocorre que toda vez que fazemos isso estamos perdendo a paz, perdendo o bom gosto da convivência, perdendo o sono… perdendo o outro.

Jesus insiste dizendo que mesmo se eu for conversar com o outro e lhe falar da dor que senti com aquilo que me fez ele não ouvir, eu não devo desistir, devo conversar com duas pessoas, dizer a elas o ocorrido e com elas irmos conversar com o irmão que me feriu. A insistência de Jesus vai além do que os valores sociais nos ensinam. Jesus pede um passo a mais dos seus discípulos, pede amizade, companheirismo, interesse pela dor um do outro, busca de ajuda para sarar a dor. Falar da ferida que tenho por causa de uma atitude de um irmão a outras pessoas não é fácil, mas a maneira de fazê-lo pode ser conforme os ensinamentos de Jesus ou contrário. Geralmente quando uma dor é partilhada com outras pessoas, essa partilha é feita de maneira a depreciar aquele que fez abrir a ferida. Mas o que Jesus pede não é isso, é dizer da dor causada e juntos em duas ou três pessoas buscar conversar com aquele que causou a dor. Oh Jesus, o remédio que nos receitas é amargo.

Caso todo o caminho seja feito e mesmo assim o outro se recusar a ouvir, que seja dito à comunidade o que está acontecendo. Reparem aqui que a relação de comunidade tratada por Mateus é uma relação de laços de proximidade, onde todos se conhecem e buscam viver os valores do Evangelho. Caso o irmão não ouça nem à comunidade, então ele está demonstrando que quer viver fora do convívio fraterno. Deve ser visto como alguém a quem o Evangelho ainda não alcançou.

Caros irmãos, raras vezes vi essa palavra do Evangelho ser observada em família. Mas as vezes que vi esse processo acontecer, mesmo quando o outro resolveu se desligar, a pessoa que foi ferida, ao longo do processo sarou, pois de ter expressado sua dor, ter buscado reconciliação, ter feito o possível para ganhar o irmão fez com que a ferida sarasse de dentro para fora, embora ficasse a cicatriz.

Que o Evangelho de Jesus seja sempre a luz a iluminar nossos lares. Amém!