Quem é o maior

25º domingo do tempo comum. Os dias são de muito calor aqui pelas bandas do Araguaia. Estamos à espera da chuva do caju. É assim que os mais velhos por aqui dizem. Se a chuva vem, significa que será um ano de fartura. Quando ela falta, um cenário de incertezas nos espera. É a sabedoria dos mais velhos, ensinando-nos o bem viver. Ainda bem que o Araguaia segue nos dando o saudável peixe. Segundo os pescadores meus vizinhos, o Pacu e o Piau, são a bola da vez. Se pesca com relativa facilidade. Nada melhor que um peixe fresco, em meio a tanto veneno nas nossas mesas, como nos mostra o documentário “O veneno está na mesa”, de Silvio Tendler.

Um domingo diferente. Desta vez, não tive a presença de meus visitantes ilustres de sempre. Um silêncio abissal, tomou conta do ambiente. Até parece que, para os meus inquilinos, domingo é o dia do descanso. Também eles, se deram o direito de dormir até mais tarde. Esta situação fez-me lembrar de uma das passagens do evangelista Mateus: “Olhem os pássaros do céu: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, o Pai que está no céu os alimenta. (Mt 6,26) Isso nos faz recordar que, se Deus cuida assim destes pequeninos seres, o que não faz para cuidar de cada um de nós?

Cuidar, cuidar, cuidar! Esta é a essência de nosso existir, enquanto seres dotados de razão e sentimentos. A pedagogia do cuidado é a preocupação maior do momento. Precisamos desenvolver em nós o espirito do cuidado. Cuidar de mim. Cuidar de você. Cuidar de nós. Deus que cuida de cada um dos seus. É assim pelo menos que fala um dos salmos: “O Senhor conhece os dias dos íntegros, e a herança deles permanece para sempre; não se envergonharão nos dias da seca, e nos dias da fome ficarão saciados”. (Sl 37, 18-19) Deus muito nos ama! E quem ama não abandona jamais! Vivendo e cuidando uns dos outros, afinal, como diz o cantor e compositor Lenine: “A vida não para!”.

A liturgia de hoje nos propõe uma das passagens mais belas do evangelho da comunidade de Marcos. (Mc 9,30-37) Nesta narrativa, Jesus está a caminho de seu calvário. Entretanto, os seus seguidores estão com uma preocupação secundária de quem entre eles seria o maior e o melhor. Mesmo tendo caminhando tanto tempo ao lado do Mestre, dão uma demonstração clara de que não entenderam nada de sua proposta. Ou seja, eles não são capazes de compreender as consequências que a ação de Jesus iria provocar, pois ainda concebem uma sociedade onde existem diferenças de grandeza. Quem é afinal o maior dentre eles? Ao que Jesus lhes mostra que a grandeza da nova sociedade não se baseava na riqueza e no poder, mas na adesão e entrega confiante ao serviço, sem pretensões e interesses.

Foi assim entre os primeiros seguidores de Jesus e é assim também entre nós que queremos fazer a caminhada com Jesus nos dias de hoje. Na nossa caminhada de Igreja, ainda existem entre nós, aqueles e aquelas, que ainda pensam da mesma forma que aqueles seguidores de Jesus, naquele determinado momento histórico. Quantos dentre nós, não tem esta sede de poder e da necessidade de serem melhores que as demais pessoas? Pessoas, cujo ego inflamado, se sentem até mais importantes que o próprio Jesus a quem tentam seguir. Esquecemo-nos de que não anunciamos a nós mesmos, mas o evangelho e o Projeto de Deus revelado por Jesus. Esquecemos de que: “Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer”. (Lc 17,10)

Para os que assim pensam, Jesus é bastante claro e objetivo. O maior é aquele que serve: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35) Servir é a missão daqueles e daquelas que se colocam no seguimento de Jesus de Nazaré. Ser Igreja neste contexto é estar preparado a servir em todas as circunstancias, assumindo para si as mesmas prerrogativas de Jesus que veio para servir e não para ser servido. (Mt 20,28) Entretanto, ao invés de sermos servidores de todos, alguns preferem fazer aquilo que está circulando nas redes digitais, quanto a negação da comunhão eucarística à certas pessoas. Ainda bem que o Papa Francisco já se antecipou e disse: “Eu nunca recusei a eucaristia a ninguém. A comunhão não é um prêmio para os perfeitos”. Até porque, como disse Jesus, “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes. (Mc 2,17) Jesus que não só os traz para perto de si, mas convive com aquela gente de má fama, mostrando que a sua missão era a de reunir e salvar aqueles que a sociedade mesquinha e hipócrita rejeitava como gente de má fama.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.