O cap. 13 de Mateus é o início do discurso do terceiro livrinho cujo tema é o mistério do Reino. Lendo essa parte de Mateus sentimos que por trás de tudo, está o tema do conflito entre Jesus (o mestre da justiça) e as lideranças político-religiosas do tempo (responsáveis pela injustiça que gera a morte do povo). É sob essa ótica que devemos ler a parábola do semeador. Mateus situa as parábolas do cap. 13 no mesmo contexto da polemica do cap. 12, usando a expressão “naquele dia” (13,1). Jesus sai de casa e vai sentar-se junto ao mar. Sendo cercado pelas multidões, começa a falar em parábolas, que revelam o que é o Reino de Deus.
Entre a parábola e sua explicação há um diálogo de Jesus com os discípulos . A pergunta dos discípulos : “Por que usas parábolas para falar com eles?” (v. 10) revela a preocupação das primeiras comunidades cristãs e prepara a revelação definitiva de Jesus e seu projeto. A resposta de Jesus (vv. 11-15) denota que não há cisão entre o que ele diz e faz. E só há uma forma de compreender os mistérios do Reino (= a prática de Jesus): tornando-se seu discípulo. Só quem o aceita como Messias é que reconhece em sua prática o projeto de Deus se realizando.
A ação de Jesus provoca o julgamento de Deus: quem se posiciona a favor dele vai percebendo Deus agindo na história; quem o rejeita vai perdendo aos poucos não só a percepção do Deus que age nos acontecimentos bons ou ruins, como também a própria capacidade de um compromisso maior.
Quem não adere a Jesus e sua pratica se torna insensível, porque não tem o senso das coisas que tem Jesus. Essa insensibilidade no ouvir, ver e compreender tem sua raiz mais profunda na insensibilidade do coração, sede das opções de vida. Ao endurecimento do coração (= rejeição de Jesus) segue-se o fechar os olhos e ouvidos, culminando na incompreensão.
O versículo 16 proclama a bem aventurança dos que, desde agora, vêem e entendem, ou seja, fizeram o discernimento e superaram a crise, o risco e o fracasso. Estes são mais felizes do que os profetas e justos que ansiaram por este momento (v.17). Profetas e justos são duas dimensões do povo de Deus, e ambas fazem pensar num único tema: a justiça. Em Jesus essa causa chegou ao ponto mais alto.
Os apóstolos ouviram o que Jesus pregava e aplicavam a si. Humildes, tinham vontade de mudar de vida para ir pelo caminho que Ele lhes propunha. Já as autoridades judaicas, principalmente os fariseus, saduceus e escribas, também ouviam o que Jesus pregava, mas não queriam se converter à doutrina dele; escutavam-no já com o espírito preparado para criticá-lo e colocá-lo em armadilhas. Essa abertura do coração para receber a Palavra é graça de Deus que constantemente precisamos pedir.