Como já dissemos quando iniciamos a reflexão do evangelho de Mateus, o tema que domina o Evangelho de Mateus é o da justiça do Reino como chave que cria sociedade e história novas. Esse Evangelista apresenta Jesus como o Mestre que traz para dentro de nossa sociedade e história ensinamento e prática centrados na justiça que gera relações novas e, consequentemente, constrói um mundo novo. Todo o evangelho de Mateus é dominado pelas primeiras palavras que marcam o programa de Jesus: “devemos cumprir toda a justiça de Jesus”(3,15) e também o programa dos seus seguidores: “Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do céu”(5,20).
O capítulo 18 de Mateus – ao qual pertence o texto de hoje – não foge à regra, procurando mostrar aos seguidores de Jesus como viver a justiça do Reino dentro da comunidade, sobretudo em situações difíceis como, por exemplo na questão do perdão.
A pergunta de Pedro a Jesus demonstra que se trata de questão delicada: “Senhor quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? até sete vezes?” (v. 21);
A parábola que segue (vv. 23-34) é a resposta de Jesus. Ele mostra a seus seguidores que, para entrar no Reino do Céus, é preciso superar a justiça dos doutores da Lei e dos fariseus (cf. 5,20). De fato, a casuística dos rabinos tinha chegado a um consenso sobre o numero de vezes em que devemos perdoar quem nos ofendeu: era suficiente perdoar quatro vezes o mesmo erro. Pedro, ao fazer a pergunta demonstra boa vontade em superar as barreiras da justiça humana codificada em quantidades numéricas. O mestre da justiça vai mostrar que não se trata de números quantitativos. O perdão e questão de qualidade. Se não for total e contínuo não é perdão. Com isso amplia se o que foi dito em Mt 6,12: “Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. Nós damos a Deus o metro para nos medir. A resposta de Jesus a Pedro mostra que somente o perdão pode salvar a comunidade da ruína: “Não lhe digo que até sete vezes , mas até setenta vezes sete”(v.22), ou seja, sempre. O mestre da justiça ensina, dessa forma, a acabar com a indiferença, ódio e vingança que geram uma sociedade brutal e ambígua.