Os dias já amanhecem mais fresquinhos nesta época do ano aqui pelas bandas do Araguaia. Não significa que permanecerá assim. Logo que o Astro-Rei vai dando as suas coordenadas, o calor volta a reinar. Sempre foi assim. Diferentemente de outros lugares, aqui não temos aquele frio intenso, verificado em boa parte do Brasil, principalmente nos estados do sul do país. Tanto que a nossa temporada de praia acontece sempre em julho. Nossos turistas dormem bem a noite, e durante o dia podem desfrutar das águas límpidas do Araguaia, nas nossas centenas de praias que se formam ao longo do rio. Isso sem pandemia, claro!
Quinta feira da sexta semana da páscoa. Caminhamos firmes rumo à Pentecostes, nosso encontro com o Espírito Santo de Deus. Não estaremos sozinhos e nem tristes como quer Jesus. Temos o Pai, o Filho e logo mais o Espírito. As três pessoas que vem nos ajudar a fazer o discernimento do seguimento de Jesus, à luz da Palavra de Deus. Seguiremos nas pegadas d’Ele, vivendo e anunciando o quérigma, mensagem de Boa Nova, Evangelho (do latim evangelĭum, do grego Euaggélion – boa notícia)
Jesus chama os seus e, antes de enviá-los, os prepara, pois a jornada será longa, trabalhosa e cansativa. Entretanto, fez com eles a demonstração de como deveriam se comportar, a partir de sua prédica e prática. Ou seja, deu-lhes o exemplo concretamente: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia”. (Mt 11,5) Ou seja, o messianismo trazido por Jesus não se trata de uma simples ideia ou mera teoria. É uma atividade concreta, que realiza o que se espera da era messiânica: a libertação dos pobres e oprimidos.
Assim como seus primeiros seguidores e seguidoras, nós também somos os anunciadores do Evangelho. Anunciadores não de palavras apenas, mas com a própria vida. Vida que se faz doação na boa nova à todos,mas sobretudo aos pobres, como fez Jesus. Muitos de nós achamos que somente os religiosos e religiosas, padres e bispos, são estes enviados como anunciadores da missão de propagar o evangelho ao mundo. Ledo engano! Todos e cada um de nós, de alguma maneira, somos estes enviados por Jesus. Todavia, o grande problema se dá quanto ao discernimento desta missão a qual recebemos pelo nosso batismo. O que e como devemos fazer para dar cabo desta missão?
Não se trata de uma missão a ser realizada no formato de uma vivência intimista da fé (eu e Deus, Deus e eu), mas na relação com o outro na vida da comunidade. Neste sentido, somos desafiados a assumir a radicalidade evangélica, proposta por Jesus de Nazaré. Radicalidade esta que, quando nos referimos a ela, as pessoas torcem o nariz, por não entendê-la na sua amplitude. Geralmente tais pessoas confundem-na com conservadorismo, sectarismo ou mesmo fundamentalismo fanático. Lembrando que o ser radical é sempre aquela pessoa que volta à fonte, à nascente, às origens, onde possa beber da água cristalina, genuína do carisma fundante da proposta do cristianismo.
A melhor forma de compreender a proposta de Jesus, e fazer o seguimento de suas pegadas, além do Evangelho (quérigma), é fazer o retorno às comunidades primitivas. Entender como as primeiras comunidades cristas, vivenciaram a proposta de Jesus. Ali, estão os primeiros relatos de como eles e elas, traduziram a mensagem de Jesus no cotidiano de suas vidas, assim que os conflitos foram aparecendo. Fazer a experiência de fé encarnada na realidade, sem usar os textos bíblicos fora de seu contexto originário, até porque, o texto fora do contexto é mero pretexto, para justificar os nossos interesses diante deles.
Neste sentido, aprendi muito com o nosso bispo Pedro. Ele costumava dizer que nós devemos ser para os tempos de hoje as ‘testemunhas fieis’, como Jesus o foi: “Denunciar a iniquidade do mercado total, do consumismo desenfreado, do lucro excluidor das maiorias. Fazer da Fé cristã luz e força para combater esse sistema de iniquidade que mata de fome milhões de pessoas da grande família de Deus”. Além do Evangelho. Pedro também apostava que a Teologia da Libertação, muito nos ajudou a fazer este discernimento de como Jesus se comportaria diante dos nossos problemas, uma vez que, com ela partimos da “libertação socioeconômica, abrangendo cada vez mais a libertação integral, holística, da luta contra a fome à vivência da mística, voltando mais e mais a Jesus de Nazaré, a sua causa, que é o Reino!” Radicalidade que pressupõe não apenas ter fé em Jesus, mas ter a mesma fé d’Ele. (Amicus in veritate et ex corde – unidos no mesmo caminhar)