Caríssimos irmãos, paz e bem!
Hoje ouvimos no Evangelho Jesus falando do Reino dos Céus, na parábola do patrão que paga a cada empregado a mesma quantia, desde o que trabalhou o dia todo até o que trabalhou apenas uma hora. Partilho agora uma breve reflexão pessoal a respeito do texto.
Neste ano de 2020 eu fiquei desempregado por seis meses. Recentemente consegui um trabalho. Ano passado aqui em Mato Grosso os profissionais da educação para exigir direitos já adquiridos, direitos contidos em lei, tivemos que fazer uma greve que durou 78 dias, a mais longa da história da educação. Quando se nos apresentam números que dizem de uma realidade de mais de 14 milhões de desempregados no Brasil, para quem olha parecem só números, mas para o pai ou mãe que fica desempregado, tendo filhos para sustentar, aluguel para pagar, prestações de automóvel ou empréstimos, essa realidade é desumanizadora.
No contexto em que Jesus contou essa parábola do patrão que contrata os empregados por diária, também aparecem muitas pessoas desempregadas. O patrão diz aos empregados que pagará o que for justo. Mais o que é justo, segundo a parábola? O que é justo para fazer parte do Reino dos Céus? Justo é dar a cada um conforme as suas necessidades. O patrão não olhou o lucro que aquele mensalista lhe deu, mas sim a necessidade que tinha e pagou a todos de maneira igual. Um micro ou pequeno empresário ao ler estas frases certamente pensará: “isso aí é só na parábola, porque se eu fizer isso, meu negócio quebra e aí eu também fico desempregado”. De fato, o sistema econômico no qual estamos inseridos não foi construído para acontecer o Reino dos Céus, mas para explorar e matar, gerando lucros fartos a uns poucos bilionários, às custas dos pequenos, dos micro, gerando um contingente enorme de pessoas descartadas, que nem sequer têm acesso ao mínimo necessário para a subsistência. Oh Jesus, como o reino do Capital está longe do Reino dos Céus. Aqui ainda os últimos são os últimos e para eles pouco ou nada sobra, enquanto que os primeiros acumulam até não saber o quanto têm.
Pior ainda, os primeiros são os que fazem as regras, é a eles que a precarização das leis trabalhistas serve, é a eles que o desmatamento da Amazônia, garimpo em terras indígenas, despejo de comunidades quilombola favorece, é a eles que interessa um contingente enorme de desempregados. É a eles que nosso congresso e presidente se curvam. E não só eles, mas também muitos pregadores do Reino dos Céus.
Lembro-me de Pedro Casaldáliga que, no caminho de Jesus, amaldiçoou os lucros fartos e nos lembrou que “em Belém Deus se fez homem, mas na carpintaria de José, Deus se fez classe, se fez trabalhador”. Persigamos a Utopia do Reino, busquemos nos inteirar das reflexões da “Economia de Francisco”, como proposta para a construção de um modelo econômico mais humano. Que o Evangelho de Jesus nos dê sabedoria, e no mais, apoiemo-nos uns aos outros, últimos apoiando últimos para resistirmos e esperançosos nos colocar dentro do Reino dos Céus.