Evangelho Mt 23,27-32

Irmãos e irmãs, paz e bem!

                Vamos refletir hoje palavras duras de Jesus, expressas aos religiosos de seu tempo, e que se aplicam a muitos de nós, religiosos de hoje.

                Primeiramente, é bom recordar que Jesus não era sacerdote, pois não pertencia às famílias sacerdotais da sua época. Portanto, não estava vinculado ao Templo ou ao culto. Em seu tempo haviam muitos grupos religiosos, mas ao que parece, Jesus não estava vinculado a nenhum desses grupos. Sua atuação era leiga e desvinculada das estruturas de poder da religião de seu povo.

                Desse lugar teológico, do meio do povo, do lugar dos trabalhadores, do lugar dos leigos, do caminho dos transeuntes é que Jesus fala. E hoje ele olha para os religiosos de sua época, mestres da lei e fariseus, os primeiros eram teólogos, professores, grandes conhecedores das escrituras, os fariseus eram um grupo que buscava observar as leis contidas nas escrituras com rigidez e devoção. É de se esperar que ao olhar para essas pessoas Jesus os elogiasse por buscarem cumprir as leis de Deus e ensinar ao povo a Palavra de Deus revelada nas escrituras. Mas não é isso que acontece. Jesus percebe que a religião praticada por aqueles religiosos não gerava vida. Aliás, Jesus diz que eles são como sepulcros, cheios de morte e podridão por dentro, mas com aparência de limpeza e claridade por fora. Por fora pareciam justos diante dos homens, mas estavam cheios de injustiça e hipocrisia.

                Confesso, caros irmãos, que a mim, que busco ser uma pessoa religiosa, esse texto me toca muito, pois me faz questionar se a minha prática religiosa não é apenas observância de ritos e normas que não geram vida, se de fato pratico o bem e a justiça ou apenas aparento bondade e beleza. Confesso também que me dói perceber que apesar de sermos um país com grande maioria de católicos, somos um país tão injusto, racista, preconceituoso e desigual. E o que dizer, quando bispos e padres são duramente criticados por cristãos de nossas igrejas dizerem algumas palavras contra projetos de morte que fazem subir o pranto e o clamor de tantos até os céus.

                Atualmente faço parte do grupo que cuida da economia da paróquia na qual moro, e confesso como é difícil conseguir aprovação para destinar uma pequena parte das arrecadações para a caridade, para um movimento social, para um mutirão. Geralmente não se tem dinheiro para essas coisas. O dinheiro da Igreja não é para isso, argumentamos, temos despesas com o templo, temos que comprar um sino novo, trocar o carro da paróquia e tantas outras coisas mais. Todas coisas necessárias, de fato, mas até que ponto geradoras de vida?

                Ó Jesus, ajuda-nos a escutarmos a sua palavra e buscarmos responder aos seus anseios, em comunidade. Amém.