Reflexão Lc 12,49-53

Jesus está a caminho de Jerusalém (a viagem começou em 9,51 e termina em 19,27). É a parte mais original de Lucas, que mostra Jesus andarilho por quase a metade do seu evangelho. É uma viagem teológica e de julgamento. À medida que se caminha, Jesus lança desafios a quem deseja segui-lo, de modo que as suas palavras e ações são como um espelho no qual nos vemos e nos avaliamos. Jesus não julga nem condena, não força nem obriga, mas à medida que caminhamos com Ele purificamos nosso olhar e direcionamos nossos passos no caminho certo. É emblemática nesse sentido a frase do mestre em 11, 23: “Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, espalha”.

Os versículos podem ser vistos como explicação da frase que encabeça a longa viagem de Jesus a Jerusalém. “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém…” (9,51). Nessa cidade será morto, ressuscitará e voltará ao Pai. Por isso toma “a firme decisão” de partir.

Ele fala de um fogo a ser lançado sobre a terra e do desejo que já ardesse (v.49). O sentido passa pela compreensão simbólica do fogo e nesse sentido cabem pelo menos duas explicações possíveis. 1- Pode representar o julgamento, pois foi sob a metáfora do fogo que João Batista falou do Messias que viria para julgar. 2- Pode representar o Espírito Santo, pois é dessa forma que Lucas o torna visível na narrativa de Pentecostes.

O Batismo pelo qual Jesus anseia (v. 50) é sua paixão, ponto de chegada da longa viagem. Não se trata do batismo com Espirito Santo e com fogo anunciado por João batista (3,16), pois aí Jesus é sujeito e não objeto do batismo, ou seja, batizará, e não será batizado.

Esses versículos ampliam o que Simeão disse aos pais de Jesus: “Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em israel. Ele será um sinal de contradição” (2, 34). E cabe muito bem na dinâmica da viagem para Jerusalém. Tomada fora de contexto, a frase de Jesus se presta às mais descabidas interpretações e justificativas de conflitos: “Vocês pensam que eu vim trazer divisão” (v.51). Como entender isso? Aquele cujo nascimento foi anunciado com a bandeira da paz?

Lembremos que naquele tempo, quando um chefe de família se convertia a determinada religião, toda a sua família (casa) seguia o exemplo dele. Jesus pede a opção pessoal consciente, que assume os riscos, inclusive a rejeição dos familiares, para pertencer à nova família, cujo laço de unidade não é o sangue, mas o compromisso com a palavra. É nesse sentido que Jesus traz divisão. Ela não é essência do seu projeto, e sim consequência.

Nosso Salvador veio ao mundo para lançar nele o fogo do seu amor. E a prova maior desse amor aconteceu quando Ele morreu na cruz para nos libertar dos pecados e devolver-nos sua vida divina. A consequência da prática incessante do amor é a obtenção da paz.