O cap. 21 de Lucas é um apocalipse. É uma forma de escrever estranha para nós. Ao ler um texto apocalíptico muita gente pensa que autor esteja falando de coisas de futuro, do fim do mundo etc. O que dizer disso?
O gênero literário apocalítico não quer falar de coisas que irão acontecer num futuro remoto ou próximo. É um modo misterioso de falar sobre as coisas do tempo presente. É uma linguagem para tempos difíceis, cuja finalidade é animar as comunidades para a denúncia profética e a resistência de tudo o que se opõe ao projeto de Deus.
Quando Lc escreveu o Evangelho a cidade de Jerusalém já tinha sido destruída (ano 70 d. C) Ora, parte do cap. 21 trata desse tema. Ao lermos o texto temos a impressão de que as coisas ainda estão por acontecer. Por que então o evangelista descreve a destruição de Jerusalém? A primeira lição que a comunidade cristã tira desse acontecimento é a seguinte: o fim da cidade que matou Jesus não é o fim do projeto de Deus.
No tempo de Jesus usava se uma linguagem figurada para descrever acontecimentos futuros. Assim, quando vemos nela símbolos como “sinais no sol, na lua, nas estrela”; “forças do céu abaladas”; “bramido do mar e das ondas” significa que haverá uma grande mudança.
Na nova Jerusalém não mais existirão sol, lua, estrelas. Tudo é novo. E essa novidade é resultado da própria ação de Deus, que tem poder sobre todos os elementos cósmicos. Portanto, longe de assustar, esse tipo de linguagem quer animar, dar esperança e fortalecer na resistência.
As últimas palavras do texto confirmam esta verdade: “quando começarem acontecer essas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças porque se aproxima a vossa libertação. No entanto, nossa libertação espiritual não se dará apenas no juízo final e na hora de nossa morte, mas agora, na libertação pela misericórdia de Deus, que vem ao nosso encontro justamente quando nos deixamos vencer pelos nossos instintos e afastamo-nos dele. Quando isso acontecer, peçamos perdão e não nos desanimemos …Levantemos nossa cabeça” (v. 28).