Resistência e teimosia

Enfim, julho chegou, mostrando a sua cara. Aqui, de Goiânia, de onde ora escrevo, os termômetros apontam sete graus, fazendo doer os ossos dos mais velhos como eu. Como não temos este tipo de frio, nas barrancas do Araguaia, também não dispomos deste tipo de roupa que enfrente estas temperaturas tão baixas.

Rezei embaixo das cobertas. Ainda frustrado, por ter chegado ao consultório médico, e lá saber que mudaram o horário do meu retorno para às 14:00, sem nada me avisar. Paciência! Talvez por causa das manifestações, legítimas e pacíficas dos povos Indígenas, em Brasília, na defesa dos seus direitos, sobre as terras que ocupam, amanheci com estas duas palavras em minha cabeça pós-cirúrgica: resistência e teimosia. Duas palavras que faziam parte do repertório de Pedro.

Palavras que traduziam bem a vida cotidiana deste nosso profeta dos pobres do Araguaia. Sempre arranjava um jeito de nos dizer que, para fazer parte da turma de Jesus, é necessário aprender a conjugar estas palavras, no intuito de alcançarmos as utopias do Reino, pensadas por Deus e tão bem expressas na vida de Jesus de Nazaré.

Palavras bem apropriadas para o contexto em que os povos Indígenas vem passando. Seus direitos, sua sobrevivência, seu espaço territorial sagrado, vem sendo sistematicamente ameaçados. Pedro tinha um carinho muito grande para com estes povos, transformando as lutas deles em uma de suas causas. Neste sentido, afirmava ele: “quando os indígenas estão lutando para defender os seus direitos sobre a terra, eles estão defendendo a floresta, os rios, os animais, em benefício de toda a humanidade.” Sim, porque quando tudo isso acabar, todos nós estaremos ameaçados de também não mais existirmos.

“[…] A Terra e toda a sua problemática vão definir em boa parte os desafios da alimentação, do emprego, do alívio das cidades, da gradativa correção das desigualdades sociais. O latifúndio continua a ser o inimigo número um!”. (Pedro Casaldáliga) Os ruralistas, a bancada da Bíblia e da bala, insistem em querer apropriar das terras sagradas dos povos Indígenas. Para isso, inventaram o “Marco Temporal” que, entre outras coisas, defende a tese de que as terras pertencentes aos povos originários são aquelas que eles já ocupavam até a data de 5 de outubro de 1988. Como se a história destes povos iniciasse na data da promulgação da Construção Federal de 1988.

Os povos Indígenas querem viver! Querem viver em suas terras imemoriais, como sempre fizeram, sem serem molestados por quem quer que seja. Assumir a defesas dos indígenas com eles, é garantir o direito de todos nós de continuarmos vivendo sobre a nossa Mãe Terra, pois do contrário, todos pereceremos, pois o agro é morte, de tudo e de todos.