O texto de Mateus narra a forma trágica com que João Batista, personagem importante da história da salvação, foi assassinado. Ele denunciava o comportamento imoral de Herodes, mas não foi o constrangimento da censura do profeta que causou sua morte. O gatilho disparado tem alguns sentimentos bem conhecidos:
- Vaidade: A jovem filha de Herodíades que dançou para agradar a Herodes;
- Autoritarismo: Em cumprir uma ordem sem sentido, por um desejo pessoal;
- Ostentação: Fazer algo, simplesmente, para ser aplaudido e cultuado;
Herodes não se preocupou com mais ninguém, senão com sua própria vontade. Promoveu um banquete não para seus convidados, no entanto, para si mesmo. No fim, foi traído pelos seus próprios desejos e sentimentos, uma vez que, preparou uma armadilha onde ele mesmo caiu. Ele acabou se tornando refém de sua posição de soberano, obrigado a fazer, não mais a sua vontade, mas a vontade de Herodíades. Logo, ele submeteu-se, perdendo sua liberdade para não estar envergonhado diante de seus convidados.
Diante do embaraço de Herodes podemos nos propor algumas questões, a fim de examinar melhor nossa consciência:
- Quantas vezes fazemos “banquetes” para nos mostrarmos para nossos convidados?
- Quantas vezes queremos nos mostrar fortes, sendo irredutíveis, não admitindo mudar de opinião ou de atitudes?
- Quantas vezes nos sentimos reféns a situações que criamos e não sabemos como nos libertar?
Se você se identificou com algumas dessas situações, calma! Todos cometemos erros e temos a oportunidade de corrigi-los, bem como, converter nosso modo de agir.
Na sequência desse texto sobre o martírio de João Batista, temos em Mateus 14,13-21 o relato da primeira multiplicação dos pães que Jesus realizou. Esse relato também apresenta um banquete, porém os gestos, as atitudes e os objetivos são outros. Por isso, gosto de entender essa parte do texto como se Mateus tivesse a intenção de expor dois banquetes: o banquete da morte e o banquete da vida. Ou seja, como se tivesse nos convidando a pensar em qual dos banquetes queremos participar. Para isso, pensemos nas atitudes do banquete promovido por Jesus.
- Ao invés de vaidade, a gratuidade: No banquete de Jesus, os convidados são protagonistas, pois é para eles que Jesus oferece o banquete. Diferentemente de Herodes, onde seus convidados tinham sido convocados para testemunharem seu espetáculo particular;
- Ao invés de autoritarismo, a partilha: Dos cinco pães e dois peixes todos comeram. No banquete de Herodes, somente Herodíades se sentiu saciada pela morte de João Batista.
- Ao invés de ostentação, a discrição e a humildade: Jesus não multiplicou pães para ganhar seguidores, nem aumentar sua fama, mas fez porque a multidão tinha fome. Diferente de Herodes que esperava reconhecimento e retribuição daqueles que foram convidados ao banquete. Portanto, em Jesus percebe-se a preferência por se separar da multidão, despedir-se discretamente dos discípulos e seguir seu caminho de liberdade e missão.
Creio que essa cena deve provocar nossa consciência ao ponto de nos questionar sobre nossas atitudes e nossos sentimentos. Porque cabe a cada um de nós decidir o caminho a seguir. Oxalá façamos a opção pela vida, nesses tempos de pandemia, que tristemente vemos que outros valores como dinheiro, trabalho, política e coisas materiais serem mais valoradas que a vida. Parece que muitos têm tomado assento nos banquetes de Herodes.
Que possamos nutrir a nossa vida do único alimento que verdadeiramente sacia, Cristo, o Pão Vivo descido do céu.