Sal e luz

Terça feira da Décima Semana do Tempo Comum. Festa de Santo Antônio de Pádua (1195-1231). Presbítero e Doutor da Igreja. Talvez seja ele o santo mais popular do Brasil. Nascido em Lisboa, Portugal, faleceu em Pádua, na Itália no dia 13 de junho de 1231, sendo a data que a Igreja escolheu para celebrar a sua memória. Antônio, um franciscano contemporâneo de São Francisco de Assis, viveu e dedicou a sua vida aos pobres, como verdadeiro seguidor do Mestre de Nazaré. Uma de suas frases se tornou emblemática; dizia ele: “É viva a palavra quando são as obras quem falam”.

A Igreja dos tempos de hoje tem ainda muito o que aprender com a dedicação deste homem de Deus aos mais pobres. Se antes os Padres da Igreja diziam: “Extra ecclesia nula salus” (“Fora da Igreja não há salvação”), nosso bispo Pedro também dizia, “Sem os pobres, não há salvação para a Igreja”. Foi o que Santo Antônio viveu como bom franciscano que era. Dedicou a sua vida aos mais pobres, cuidando deles e sendo presença viva de Jesus na vida deles. Morreu pobre como e para eles.

“Quem ama não conhece nada que seja difícil”. Este foi um dos lemas vividos pelo nosso santo de hoje. A vida de Santo Antônio fala por si. Difícil mesmo é aceitar certas posturas de Igreja como a que ocorreu na cidade de Caxias do Sul (RS), onde o Colégio São José, cancelou uma palestra a ser ministrada pelo Teólogo e escritor mineiro Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto, um frade dominicano. Betto falaria sobre “As fomes do Brasil e esperanças de futuro”. Assunto que está intimamente ligado a temática proposta pela CNBB para a Campanha da Fraternidade/2023: Fraternidade e Fome” – o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16)

O Colégio São José cancelou a palestra depois de ser pressionado por pais de alunos e responsáveis por estudantes, que em um abaixo assinado referiu-se ao palestrante como aquele que “é adepto da Teologia da Libertação e é militante de programas pastorais e sociais”. Só faltou dizer: é comunista. O colégio não somente feriu os princípios dos ensinamentos de Jesus, como a missão própria daquela unidade de ensino que assim diz de sua Missão: “Educar integralmente a pessoa, qualificando-a para bem viver, conviver e contribuir na sociedade do seu tempo, tendo por base o princípio da igualdade na diversidade”.

Ensinamento de Jesus que continua acontecendo com o texto proposto pela liturgia para esta terça feira. O pano de fundo é ainda o “Sermão da Montanha”. No texto de hoje, Jesus conclama os seus seguidores e seguidoras que sejam o “sal” e a “luz” do mundo. O Mestre Galileu fazendo uso de metáforas, através de uma linguagem bastante simples, para que os seus entendessem. A metáfora é aquela figura de linguagem em que se encontra uma comparação implícita. Muito utilizada por Jesus, tanto as metáforas quanto as parábolas. Ser sal e ser luz para que a vida se transforme e as pessoas sejam instrumentos desta transformação com vistas ao Reino de Deus.

Os discípulos e discípulas são provocados a fazerem de suas vidas uma “ortopráxis”. Ortopráxis que quer dizer aquela ação feita após a compreensão do conceito explanado por Jesus. Ou seja, seria a prática correta daquilo que aprendemos através da Palavra de Deus que está nas Escrituras Sagradas. Depois deste ensinamento, Jesus quer que os seus seguidores e seguidoras aceitem o desafio de fazer de suas vidas ação, conduta, ato, costume, manifestação, ou prática correta fundamentada numa fé lúcida e consciente.

“Vós sois o sal da terra”. (MT 5,13) “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14). O mundo carece e necessita de pessoas que sejam “sal” na medida certa e não para azedar e infernizar a vida delas. Pessoas que sejam fontes de luz para clarear os caminhos da história e fazer acontecer o processo de libertação dos empobrecidos. Os que seguem os passos de Jesus devem estar conscientes de que estão unidos com todos aqueles e aquelas que anseiam por uma nova sociedade de um mundo novo (Reino). Aprender com Jesus e testemunhar com a vida nas ações concretas realizadas. Não se comprometer com isso é deixar de ser discípulo e discípula do Reino. O Deus invisível se faz presente nas ações dos seguidores de Jesus, continuando as suas obras de libertação:. “Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”. (Mt 5,16)


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.