Mais uma semana está iniciando. Mais uma vez nos vemos diante dos desafios que a vida vai nos reservando. Colocamo-nos na presença de Deus e, numa atitude corajosa, façamos como a mãe de Jesus: “Faça-se em mim segundo a tua vontade.” Para que Deus vá moldando a nossa vida segundo os seus desígnios. Não tenhamos medo de nos jogarmos no vão do abismo, pois ELE é a nossa luz, força e proteção. Sigamos o que ele mesmo nos diz: “Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida POR CAUSA DE MIM vai encontrá-la. (Mt 10, 39)
Somos seres humanos. Não somos robôs que não possuem sentimentos. Estamos todos vulnerabilizados por causa desta doença que leva a morte. Muitos dos nossos já se foram. Não podemos vê-los como números nas estatísticas de morte. Sejamos solidários à sua dor pela perda dos seus entes queridos. Coloquemo-nos no lugar deles para que possamos sentir a sua dor. Por mais que alguns não pensem assim, não podemos ser como eles. Os sentimentos bons do nosso coração, nos faz mais próximos daqueles e daquelas que estão de luto.
Solidarizo-me com aquela profissional enfermeira que, num depoimento emocionado, relata que não está podendo voltar para casa no final de cada dia, para não correr o risco de contaminar os filhos que estão em casa. Aos prantos confessa que deixou de amamentar o seu bebê. Mesmo diante de tamanho sacrifício, ainda assim, não são devidamente valorizados como deviam.
No instante que escrevo, leio a noticia de que uma menina de oito anos que trabalhava ilegalmente como empregada doméstica, foi morta por seus empregadores. Esta tragédia aconteceu na cidade de Rawalpindi, no Paquistão. Zohra trabalhava como empregada doméstica e foi espancada pela sua patroa, e não resistiu aos ferimentos, por ter aberto uma gaiola onde havia dois papagaios de estimação daquela família. No Paquistão é “comum” este tipo de trabalho ilegal. Que mundo mais louco é este que estamos vivendo. Crianças usadas como mão de obra escrava.
O profeta Isaías, que teria vivido entre os anos de 765 e 681 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, tem uma das mais belas passagens que se contrapõe radicalmente a situações como as destas crianças paquistanesas. Diz ele: “Aí não haverá mais crianças que vivam alguns dias apenas, nem velhos que não cheguem a completar seus dias, pois será ainda jovem quem morrer com cem anos, e quem não chegar aos cem anos, será tido por amaldiçoado. (Is 65, 20-21)
Esta é a voz da profecia. Esta é a voz do profeta que não teme dizer a verdade vinda de Deus, doa a quem doer. Infeliz daqueles que são chamados a uma vocação e numa atitude covarde, compactuam com as forças opressoras geradoras de morte de seres inocentes como esta criança de oito anos, que não conseguiu entender o porquê daqueles pássaros estarem engaiolados. Nasceram para a liberdade e estavam privados dela.
Quantos ainda há entre nós que, vendo a realidade de morte, sendo patrocinada pelos algozes, se calam com medo das possíveis conseqüências. Muitos há também que se enfileiram juntos aos anjos da morte. Vivem com as suas consciências tranquilas, sem conseguir perceber, que a morte dos pobres não é um mero acaso. Não vamos nos esquecer que temos um compromisso com a vida. Nosso Deus é o Deus da vida! Um Deus preocupado com os seus e não aceita que sejam mortos da forma como estão. No seu pensar, vidas precisam ser salvas. O nosso Deus não é “Tânato” ou “Tânatos” que, na mitologia grega, era a personificação da morte.
Ou nos comprometemos com a vida para todos, ou de nada adiantará a nossa vivencia de fé. Aliás, nem a nossa oração chegará aos ouvidos de Deus por causa deste nosso comprometimento com as forças da morte. Ainda segundo o profeta Isaías “Quando vocês erguem para mim as mãos, eu desvio o meu olhar; ainda que multipliquem as orações, eu não escutarei. As mãos de vocês estão cheias de sangue”. (Is 1, 15) Vendo a mortandade de indígenas por aqui, acabo me lembrando daquela famosa frase que “no Brasil todo mundo tem sangue indígena: quem não tem nas veias, tem nas mãos. Alguma dúvida?