Santa Teresa d’Ávila: inspiração para a nossa espiritualidade

Teresa de Ávila, conhecida como Santa Teresa de Jesus, nasceu em 28 de março de 1515, na Espanha (no Reino de Castela). Seu nome de batismo era Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada. Sua vida foi marcada pela Ordem Carmelita, onde se dedicou à mística e à vida espiritual. Por sua obra, Santa Teresa foi depois considerada Doutora da Igreja e Mãe de Espiritualidade. Ela lutou pelo bem da sua Ordem, reformando a disciplina e a regra, e fundou, junto com São João da Cruz, a Ordem dos Carmelitas Descalços.

A vida de Teresa de Ávila foi profundamente influenciada pela mãe, Beatriz de Ahumada y Cuevas, que a educou nos caminhos da piedade cristã. A pequena era fascinada pelas histórias sobre a vida de santos. Um dia fugiu, com seu irmão mais novo Rodrigo para tentar o martírio pelas mãos dos mouros, mas as criancas foram descobertas pelo tio, já fora dos muros da cidade. Quando a mãe de Teresa morreu, esta tinha quatorze anos e experimentou uma grande tristeza que a levou a abracar firmemente a devoção à Virgem Maria, como sua mãe espiritual. Na mesma época, foi enviada para uma escola de irmãs agostinianas, em Ávila, o Convento de Nossa Senhora da Graça.

Puoco tempo depois, Teresa contraiu uma grave doença, provavelmente malária, e foi retirada do Convento. Ela conseguiu suportar o sofrimento graças à leitura de livros devocionais, como “O Terceiro Alfabeto Espiritual”, do Padre Francisco de Osuna e outras obras de Sao Francisco de Alcântara e Santo Inácio de Loyola. Nesses livros, ela encontrou o caminho da meditação e da contemplação interior. Depois de recuperar-se, sentiu-se chamada a entrar para o Carmelo, para levar uma vida de profunda oração e espiritualidade.

Na sua autobiografia, escrita em 1567, Santa Teresa conta que durante a sua enfermidade, ela passava por experiências místicas, passando da “oração mental”, para a “oração no silêncio” e mesmo para as “devoções do êxtase”, nas quais se sentia em união perfeita com Deus. Durante esse estágio final, ela experimentava as lágrimas, o terror profundo pelo pecado e sentia a  sua impotência e submissão diante de Deus.

Tendo entrado para o Convento Carmelita da Encarnação em Ávila, em 2 de novembro de 1535, experimentou uma grande insatisfação com aquilo que se vivia na comunidade. Ali viviam mais de 150 irmãs e estas não observavam como deviam a clausura. O lugar era visitado por muitas pessoas e reinava pouco silêncio, alem de conversas frívolas e tolas. Diante de tudo isso, ela invocava os santos penitentes e, um dia, diante de um crucifixo muito ensaguentado, perguntou: “Senhor, quem te colocou aí?” E parece ter ouvido uma voz: “Foram as tuas conversas no parlatório, Teresa”.

Desse modo, incentivada pelo padre franciscano São Pedro de Alcântara, seu orientador espiritual, Teresa decidiu fundar um Carmelo reformado, corrigindo o a disciplina e o relaxo que encontrava no Carmelo da Encarnação. O novo Convento Sao José, fundado em 1562, tinha uma disciplina rígida, marcada pela pobreza extrema. Na “Constituição” do novo Carmelo, foi adotada a mais estrita clausura e o silêncio quase perpétuo. As religiosas vestiam hábitos toscos, usavam sandálias ao invés de sapatos (por isso, foram chamadas carmelitas descalças) e eram obrigadas à abstinência perpétua de carne. As comunidades nao poderiam ter mais de treze religiosas, ou mais tarde, não poderiam ser mais de vinte.

Em 1567, tendo recebido uma carta do prior geral carmelita, Teresa passou a visitar as províncias da Espanha para fundar novas casas do seu Carmelo reformado. Ela recebeu tambem permissão para criar novas casas para homens que desejassem aceitar suas reformas, com a ajuda de São João da Cruz e Santo Antônio de Jesus. Com isso, foi criado em Duruello, em 1568, o primeiro Convento de Irmãos Carmelitas Descalços. É claro que algum tempo depois, uma série de perseguições começou contra Teresa, por parte dos carmelitas da antiga observância, que a impediram de criar novas casas. Graças à intervenção do rei Filipe II da Espanha e do Papa Gregório XIII, ela pode continuar sua obra e foi criada uma província especial para o ramo das Irmãs Carmelitas Descalças.

Nos anos finais de sua vida, após ter aberto dezessete conventos, começou a passar por aflições, até que, em 4 de outubro de 1582, faleceu no Convento de Alba de Tormes. Neste ano, o mundo estava fazendo a mudança do calendário juliano para o calendário gregoriano, por isso, muitos consideram que a sua morte se deu em 15 de outubro, dia escolhido para celebrar a sua festa.

A vida de Santa Teresa se confunde também com as suas obras e escritos, nos quais deixou profundos ensinamentos sobre a vida mística e sobre o caminho da contemplação e da espiritualidade. Entre elas estão as suas cartas e poesias, a sua “Autobiografia” (1567), “O Caminho da Perfeição”, “Meditações sobre o Cântico dos Cânticos” (1567),  “O Castelo Interior” (1577), na qual compara a alma contemplativa a um castelo com sete sucessivas moradas interiores, semelhantes aos sete céus.

Santa Teresa foi canonizada em 1622, quarenta depois da sua morte, pelo Papa Gregório XV. O título de “Doutora da Igreja”, foi dado pelo Papa Paulo VI, em 27 de dezembro de 1970, juntamente com Santa Catarina de Siena. Santa Teresa deve ser conhecida pelas obras e pelos seus ensinamentos. Ela deixou um caminho para todos nós, envolvidos por tanto barulho e agitação no mundo de hoje: o caminho do silêncio e da contemplação, o caminho do encontro com o amor de Deus que está aberto para todos os cristãos.  

 


Padre Felipe Fabiane, sacerdote da Diocese de Guarapuava – PR. Doutor  em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, atualmente é secretário da Nunciatura Apostólica no Zimbabwe, sul da África.