Santa Teresinha do Menino Jesus e a sua “pequena via” para a santidade

Neste dia 1º de outubro, a Igreja faz memoria de uma grande “pequena” santa, que possui muitos devotos e deixou uma verdadeira escola de espiritualidade a todos: Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, ou Santa Teresa de Lisieux, que tendo vivido apenas por 24 anos nesta terra, deixou uma marca significativa para tantos que seguiram os seus passos, seja no Carmelo, que nas várias vocações na Igreja.

Marie-Françoise Thérèse Martin (seu nome de Batismo), nasceu em Alençon (na França), em 2 de janeiro de 1873, filha de um casal santo Louis Martin e Marie-Azélie Guérin Martin (chamada Zélia). O casal teve nove filhos, dos quais quatro morreram na primeira infância, e as cinco filhas, Marie, Pauline, Léonie, Céline e Thérèse todas tornaram-se irmãs religiosas, quatro delas na Ordem do Carmelo de Lisieux. Teresinha era uma menina muito vivaz e expansiva, mas foi marcada desde o nascimento por problemas de saúde. Seu temperamento, contudo, era muito emotivo e sensível, sofria muitas crises de choro e, muitas vezes, não podia ser contrariada. A menina sofreu também com a perda da mãe, que morreu em 28 de agosto de 1877, por um tumor no seio.

Com a morte de Zélia, o pai de Teresa mudou-se para Lisieux e as filhas mais velhas Marie e Pauline tomam conta das mais novas. Pauline era aquela que cuidava da especialmente da educação e da instrução religiosa das pequenas. Quando esta entraria para o Carmelo, ao longo do verão de 1882, Teresa sofria imensamente, pois sentia que estava para perder a sua “segunda mãe”. Contudo, começava a compreender que a sua vocação era também fazer parte da Ordem Carmelita, embora fosse ainda muito pequena.

Na Noite de Natal de 1886, depois de um acontecimento banal que a levou a uma crise de choro, Teresa teve uma experiência espiritual que a ajudou a recuperar a alegria que não tinha desde a perda da mãe e da partida da sua irmã para o Carmelo e que chamou de sua conversão: ela convenceu-se de que deveria esquecer-se de si mesma para fazer os outros felizes. A partir daquele momento, foi amadurecendo ainda mais a ideia de seguir a vida religiosa, mas ainda era muito jovem para ser admitida entre as carmelitas. Em 1887, o Bispo de Bayeux autorizou a prioresa a receber Teresa, que, em 9 de abril de 1888, com quinze anos, tornou-se postulante carmelita, assumindo o nome religioso de “Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face”. Este nome foi escolhido porque Teresa venerava o Menino Jesus, na sua imagem que reflete a humilhação de Deus que assumiu a forma de uma criança fraca e impotente, bem como o infinito amor revelado na imagem da face de Jesus padecente.

Desde o início, Teresa tinha um senso muito profundo de obediência à regra carmelita e foi aprofundado o senso da sua vocação: levar uma vida reclusa, rezar e oferecer seus sofrimentos pela santificação dos sacerdotes e realizar humildes e discretos gestos de caridade para com as demais irmãs. Em 10 de janeiro de 1889, Teresa tomou o hábito e entrou para o noviciado, quando cresceria na espiritualidade e faria leituras profundas sobre os santos carmelitas, como São João da Cruz. Em 24 de setembro de 1890, com dezessete anos, ela professa os seus votos solenes e torna-se definitivamente uma carmelitana. Em setembro de 1893, ao final do período do noviciado, ela pediu para não ser promovida: assim ela não poderia ser eleita para nenhuma função importante e deveria continuar pedindo permissão para as outras irmãs.

Teresa havia entrado no Carmelo com o desejo de tornar-se santa. No entanto, foi percebendo como ela era insignificante e “pequena”, incapaz de ser infalível. Na sua humildade e despojamento interiores, descobriu aquele que seria tido como seu “pequeno caminho”. Ela se convenceu que Jesus a deveria levar nos braços e conduzi-la para as alturas do céu com a sua graça, como um elevador que a levaria para a perfeição. Os ensinamentos sobre esse “caminho” aparecem várias vezes ao longo da sua obra que é a sua autobiografia, intitulada “História de uma alma”.

Desde o início da sua vida religiosa, Teresa sabia que a sua vocação era rezar pelos padres. Ela rezou fervorosamente por eles e se correspondeu com vários sacerdotes. Ela acreditava que a missão das carmelitas seria rezar pelos missionários do Evangelho que iriam salvar milhares de almas, de quem elas seriam mães espirituais. Não é a toa que, algum tempo depois, foi escolhida Padroeira das Missões, mesmo sem nunca ter deixado o Carmelo.

Os anos finais de Teresa foram marcados pela tuberculose, doença com a qual sofreu terrivelmente: ela nunca lamentou-se, pelo contrário, via o sofrimento como parte da sua jornada espiritual. Foi assim, que em 30 de setembro de 1897, morreu com apenas 24 anos de idade. Em seu leito de morte, as suas ultimas palavras foram: “Meu Deus, eu vos amo!”

 Teresa foi beatificada em 29 de abril de 1923 e canonizada em 17 de maio de 1925 por Pio XI, apenas 28 anos depois de sua morte. Através da Carta Apostólica “A Ciência do Amor Divino”, de 19 de outubro de 1997, o Papa João Paulo II proclamou Santa Teresa de Lisieux, Doutora da Igreja, uma das quatro mulheres a receberem esta honra (ao lado de Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Siena e Santa Hildegarda de Bingen). Que o exemplo da profunda humildade e sabedoria, acompanhadas do abandono e da profundidade na fé de Santa Teresinha nos ajudem sempre a crescer na santidade!

 

 


Padre Felipe Fabiane, sacerdote da Diocese de Guarapuava – PR. Doutor  em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, atualmente é secretário da Nunciatura Apostólica no Zimbabwe, sul da África.