Evangelho Lc 6,27-38

 

O texto do evangelho de hoje tem dois pontos altos. O primeiro está no versículo 31: “o que vocês desejam que os outros vos façam, vocês também devem fazer a eles”. Aqui cabe uma pergunta: qual o desejo mais profundo de todo ser humano? Cremos não estar errando ao afirmar que, no fundo de todos as aspirações humanas, está o desejo de viver, amar e ser amado.

Contudo, o amor- que é a essência da vida- anda contaminado pelo interesse. Pensamos naturalmente que deva ser uma rua com dois sentidos: amamos para sermos amados. Isso faz com que o amor seja diminuído em sua capacidade de transformação. Quando amamos somente aqueles que nos amam, impedimos que o amor transforme todas as relações sociais.

O judaísmo do tempo de Jesus defendia esse tipo de amor (cf. Mt 5,43). Jesus ensina um novo modo de se relacionar, quebrando a corrente do amor interesseiro. E propõe o amor sem interesses, com o risco de sermos odiados por causa do amor. Ou se, quisermos, Jesus nos provoca a amar interessando-nos com o bem de quem nos odeia: “Amém os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam. Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que os caluniam. Os vv. 29-30 explicam o que é “fazer o bem” a quem nos odeia: “Se alguém lhe dá um tapa numa face, ofereça também a outra; se alguém lhe toma o manto, deixe-o levar também a túnica. Dê a quem lhe pedir e, se alguém tirar o que é seu, não peça que o devolva”.

Não é nada romântico o amor que Jesus propõe, sobretudo numa sociedade como a nossa, onde a violência e a ganancia estipulam o valor da vida humana: uma bagatela. A proposta de Jesus é a gratuidade nas relações. A síntese das novas relações que criam vida nova para todos é esta: “Amem os seus inimigos, façam o bem e emprestem sem esperar coisa alguma em troca. Então a sua recompensa vai ser grande, e serão filhos do altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e maus.