Tira primeiro a trave do teu próprio olho

O Evangelho de hoje nos pede a vivência da verdadeira fraternidade, pois como Deus nos ama, apesar das nossas fraquezas, também devemos amar nossos irmãos e irmãs. Jesus é bastante claro e direito quando se dirige aos discípulos nesta última parte do Sermão da Montanha: ‘Não julgueis, e não sereis julgados. Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes. Jesus coloca-nos perante a nossa realidade profunda: não podemos criticar os irmãos se não estivermos dispostos a reconhecer e purificar-nos das nossas faltas. O paradoxo da trave no olho do outro coloca-nos diante da consciência das nossas misérias antes de olharmos a situação dos irmãos e irmãs para a correção. Não julgar significa não condenar; não se trata, evidentemente de fecharmos os olhos à realidade, numa abstenção total e absoluta do senso crítico, mas sim de evitar deitar sobre os outros uma censura sem apelo, como se nós não precisássemos de misericórdia.

O grande perigo é que sintamos perfeitos diante das fraquezas e dos pecados dos irmãos e irmãs. O que o Senhor nos pede é que assumamos uma atitude profunda de compreensão e de respeito pelos outros, sem que isto cheguemos a tolerar o pecado ou a cumplicidade com ele. Isto é misericórdia. Esta parte do Evangelho, tão exigente para nossa conversão diária, proíbe-nos de condenar os irmãos e irmãs, se não quisermos submeter-nos ao mesmo juízo de condenação, mas não exclui a radicalidade da sequela evangélica. Não se pode confundir o acolhimento e a tolerância com a aprovação indiscriminada de comportamentos que violam a justiça e molestam as comunidades, atingindo especialmente os mais fracos. Pode-se e deve reprovar, com caridade, o erro, desde que não faça um juízo sobre a consciência da pessoa que erra; devemos ser fiéis à integralidade do ideal evangélico, e ao mesmo tempo ser respeitosos tanto da fraqueza alheia como da nossa, procurando alcançar a finalidade da unidade dos homens na única família dos filhos e filhas de Deus.