Evangelho Mt 10,34-11,1

Jesus diz, hoje, no Evangelho que não veio trazer a paz, mas a espada. Esta palavra parece contraditória à proposta da Boa Notícia do Reino de Deus. Por isso, é preciso entendermos que não há nenhuma contraposição com todo o ensinamento do Mestre de Nazaré. As palavras de Jesus são particularmente exigentes e porventura, inesperadas, sobretudo na primeira parte do trecho do Evangelho deste dia, onde Ele enfrenta de forma decidida e clara o tema da separação que acontecerá no interior das relações familiares devido a fé n’Ele. A opção por Jesus e pelo Reino pode separar até mesmo as pessoas da própria família. Não se trata, de modo algum, de traduzir ou incentivar a hostilidade nas relações humanas ou não amar os próprios familiares: não se trata disto. O que Jesus sublinha é antes a prioridade da adesão pessoal e da fidelidade a Ele, pela qual é necessário enfrentar também conflitos dolorosos. A fidelidade ao Evangelho não é pedida por Jesus para se receber alguma coisa, mas porque só no seguimento é possível encontrar a vida. Aquilo que parece ser contraditório e prejudicial, mesmo que se tratem das relações afetivas mais próximas da família, torna-se motivo da plenitude de vida. Essa vida é também a recompensa para aqueles que acolherem os discípulos de Cristo, mesmo através do gesto simples e quotidiano: nada se perde porque no acolhimento generoso ao próximo se acolhe Jesus, o qual vivifica todos os que O encontraram e cria novos laços solidários.
A conclusão do discurso missionário de Jesus pode ferir os nossos ouvidos e também nos assustar, porque numa leitura rápida e descontextualizada, podemos pensar que Jesus está motivando a violência. A espada que divide, trazida por Jesus, não é uma arma violenta, mas entrando no paradoxal desta palavra, entendemos que ela é a favor da vida. É a espada que “penetra até onde as juntas e as medulas se tocam; ela sonda os sentimentos e pensamentos mais íntimos”, como afirma o texto de Hebreus; é a espada que originando a verdade, dá a vida em plenitude, faz justiça, livra do medo e de toda a forma de hipocrisia e injustiça, e nos torna “dignos do Senhor Jesus”.
A verdadeira paz evangélica é fruto do perdão e resultado da fidelidade a Deus e da justiça. Esta é a paz que Nosso Senhor veio trazer; não é uma paz alienante e alienadora, que não compromete com o verdadeiro amor e a justiça do Reino. Por isso rezemos:
Ó Deus, que dais forças aos fracos e perseverança a quem em Vós confia, concedei-nos suportar até o último suspiro a batalha pacífica da fé, enfrentando, por Vosso amor, todas as adversidades, em comunhão com o vosso Filho crucificado e ressuscitado, para partilharmos a alegria perfeita do vosso Reino.