Terça feira da décima sexta semana do tempo comum. Segundo o calendário das comemorações, o dia 20 de julho é lembrado como o Dia do Amigo/amiga, estes seres especiais que fazem parte das nossas vidas. Alguns deles estão tão intrínsecos a nós, que se confundem com a nossa essência de ser. Mais do que presentes em nossas mentes, estão alojados no interior do interior de nossos corações, acompanhando-nos vida afora, tecendo juntos a colcha de retalhos da existência.
Estou longe de casa. O despertar dos pássaros fazendo algazarra em meu quintal, substituído pelo vai e vem dos veículos velozes acordando a “Paulicéia Desvairada”. A mansidão das águas do Araguaia, repartindo o Mato Grosso do Tocantins, dando lugar ao espírito preocupado das pessoas anônimas desbravando mais um dia de trabalho. Rezei na calmaria do espírito, recordando o velho Marx com a sua sabedoria proletária: “sua pressa histórica não apressará o momento histórico”.
De celular em punho, vou aqui dedilhando os meus rabiscos diários, tentando chegar aos amigos de perto e os mais além. Deixei de frequentar este espaço por alguns dias, me dedicando à acolhida dos amigos em São Félix e também a tão esperada romaria em nossa Prelazia. Confesso que encontrar rostos amigos e cair dentro de seus abraços estava fazendo uma falta danada neste período de travessia. Nada como o encantamento de um sorriso amigo largo e festivo. Presente de Deus em nossas vidas.
Somos os semeadores e as semeadoras do Reino. Passar por esta vida e não levar em conta esta nobre missão, é sonegar a nossa essência de seres edificadores do Reino na parceria com o Criador. Nossas vidas são sementes prontas para germinar na história da existência humana em direção ao plano maior de nossas realizações. O horizonte nos aguarda e nele nos lançamos quiçá repetindo em nós as palavras que nosso bispo Pedro fazia questão de repetir: “fé, esperança, teimosia/resistência e utopia (Reino).”
A liturgia do dia de hoje nos traz presente a tão conhecida “Parábola do Semeador “. Aliás, estamos hoje adentrando o capítulo 13 da comunidade de Mateus. Este capítulo é considerado o coração do evangelho mateano. Considerando que para o povo semita, o coração é o centro do poder de entendimento e decisão, estamos assim percorrendo a espinha dorsal da perspectiva messiânica de Jesus, quando o Mestre nos propõe que sejamos todos e todas semeadores do Reino. Homens e mulheres comprometidos com as sementes das ações proativas do Reino que vai acontecendo na história.
Sementes que pressupõe a acolhida de um solo previamente preparado para alojar-se aconchegante e germinar em direção ao fruto. Semente que faz a experiência dolorosa da morte, de deixar de ser quem é, para se transformar em algo mais: vida que se “perde” para renascer em outras vidas mais, alimentando o sonho da vida que perpetua. Vida que se faz vida pela vida.
Somos ou devemos ser os semeadores do Reino com Jesus. Entretanto, a eficácia desta tarefa não está nas ações que desenvolvemos, mas na ação de Deus através de nós. Apesar de todas os desafios e dificuldades encontradas em nossas ações de semeadores, é o Senhor que faz o processo acontecer. Ele encontrou obstáculos ao encarnar-se em nossa realidade humana, trazendo-nos Deus para o meio de nós. Nem sempre seremos compreendidos e aceitos quando fazemos adesão ao Projeto de Deus revelado por Jesus. Apenas devemos estar atentos para escutar tudo o que Ele diz: “Quem tem ouvidos, ouça!” (MT 13, 9) Por falar em sementes, que tipos delas estamos cultivando em nossas vidas? Quais frutos tem nascido em nossas vidas com as sementes que cultivamos em nossos corações? Os frutos que produzimos denotam que tipo de árvore nós somos? Os frutos que produzimos são pela vida?
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.