Semear a esperança

 

Já estamos no meio da semana de uma quarta feira (27) cheia de desolação. O contexto geral da pandemia não é nada animador. Vivemos num cenário de morte. Podemos até dizer que é a crônica da morte anunciada. Os pobres morrendo sem o devido atendimento necessário. Como se não bastasse o quantitativo de 215 mil mortes entre nós, vem-nos a denúncia do presidente do sindicato dos médicos do Amazonas, Mário Vianna, num apelo dramático de que os profissionais de saúde estariam praticando eutanásia nos hospitais de Manaus. Ou seja, os médicos estão admitindo que estão tendo que fazer procedimentos para abreviar a vida dos pacientes, por absoluta falta de infra-estrutura, na rede pública de saúde.

Enquanto isso segue outras denúncias de que o genocida de plantão, estaria gastando uma somatória estratosférica de recursos, para manter a alimentação dos seus apaniguados. Da mesma forma que o sinistro perdido da saúde, nada faz para o enfrentamento de situação tão caótica da saúde no estado amazonense. Tudo isso leva-nos ao desespero de achar que não há mais saída para este atual governo, a não ser o seu impedimento. Impedir para que mais vidas não sejam sacrificadas em nome da incompetência, omissão e indiferença.

Bem fez o grande cacique Raoni Metuktire que, com o auxilio do também cacique Almir Suruí, trataram de fazer uma denúncia contundente, no dia 22, contra o desprestigiado presidente, no Tribunal Penal Internacional (TPI). Ambos os caciques, levaram até aquele tribunal, os crimes ambientais contra a humanidade. Lembrando que a representação feita por estas duas lideranças indígenas, contou com ajuda do advogado francês William Bourdon, famoso por defender causas internacionais de direitos humanos. Os indígenas fazendo a sua parte, no sentido de defender a floresta como bem maior para toda a humanidade.
Uma gota de esperança surge no horizonte da vida brasileira. No dia de ontem (26), líderes religiosos de igrejas católicas e evangélicas, protocolaram na Câmara dos Deputados, um pedido de impeachment contra o presidente em exercício. No referido documento, tais lideranças acusam o chefe do Executivo de ter agido com negligência na condução da pandemia da covid-19. Em outras palavras, o mandatário da nação está com as suas mãos ensanguentadas pelo genocídio provocado pela perda de tantas vidas tiradas do meio de nós.
Com tantos acontecimentos trágicos, sentimos esvair-se de nós a esperança que ainda nos restava. Sentimos uma dor muito grande em nosso coração. Os mais sensíveis estão sofrendo impotentes diante deste descalabro. Até os mais otimistas sentem as suas forças diminuírem diante de tal contexto. Todavia, somos seres de esperança. Esperança esta que buscamos no mais recôndito de nosso coração. De lá do fundo de cada um de nós, precisamos encontrar esta luz que não se apaga. Somos desafiados a fazer da nossa vida, o que fez o grande filósofo marxista alemão Ernst Bloch 1885 – 1977), que era considerado o pensador da utopia e da esperança. Utopia concreta, como ele costumava dizer.

Esperança que renasce na experiência de vida cristã da fé. A esperança está presente no cerne da vida cristã. Não pode existir cristão e nem cristã que não sejam pessoas de profunda esperança. Como nos dizia Dom Paulo Evaristo Arns (1921-1916), “Caminhar com Jesus é se deixar guiar pelo amor cheio de esperança de Deus pela humanidade. Mesmo com todos os males presentes no mundo por meio das ações humanas, a cristã e o cristão são chamados a caminhar ‘Ex spe in spem’, ou seja, De esperança em esperança.”

Somos os semeadores da esperança entre nós. Como nos diz Jesus no Evangelho de hoje: “O semeador saiu a semear”. (Mc 4, 3) A semente contém em si todo o DNA da planta. Ao passar pela experiência da “morte” ela faz acontecer o misterioso processo de gerar novos frutos. Somos estes semeadores de que fala Jesus. Semear gestos concretos de justiça, solidariedade, fraternidade, compaixão, amorosidade, ternura… Gestos que estão presentes na semente que carregamos dentro dos nossos corações. Mais do que nunca somos convidados a ser esta boa semente semeada onde quer que estejamos. Cada um de nós fazendo a sua parte, sempre confiando na providência divina. Acreditando que ao fazer a nossa parte sigamos confiantes como o cartunista Henfil: ”Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente.”