Semente da vida

Comecei o meu dia agradecendo a Deus por nos conceder mais um domingo. Agradecer é o que podemos e devemos fazer sempre, pelo dom da vida em nós. Independente de qualquer pandemia. Esta é a relação que precisamos ter com Deus, o autor de nossas vidas. ELE é o Senhor de Tudo, o autor da Criação. Criou a todos nós na perspectiva de sermos felizes sempre. ELE é o nosso amparo e proteção nestes tempos difíceis que estamos atravessando. Devemos nos sentir como naquela frase de para choque de caminhão: “Não sou o dono do mundo, mas sou filho do Dono.”

Por aqui as coisas seguem na incerteza de sempre. Os indígenas a cada dia sendo mais infectados e alguns perdendo suas vidas. Uma situação muito triste. Ontem partiu do nosso meio, uma grande liderança da etnia Kalapalo, do Parque Nacional do Xingu. Alguém que sempre lutou junto ao seu povo por garantias de direitos, assegurados pela Constituição Federal de 1988. Direitos que o atual governo, vem sistematicamente, descumprindo, rasgando as páginas desta lei maior, e pisoteando sobres elas. Enquanto isso, os indígenas seguem sendo assistidos precariamente e contabilizando as vidas ceifadas.

O Ministério da Saúde trata as pessoas como números cada vez maiores. Para nós não são apenas números, mas vidas, histórias, luto, dor, sofrimento, tristeza, daqueles que nem sequer podem chorar os seus que se foram. Uma passagem catastrófica de alguém pelo ministério mais importante neste atual momento. Os Xavante, que habitam nas 11 terras indígenas, distribuídas em 16 municípios, totalizando uma população estimada de 23 mil pessoas, tem números que diferem dos números apresentados pelo MS. Já são 38 mortes entre os Xavante, com mais de 300 casos de infecção. Só na aldeia São Marcos, muitas pessoas, testou positivamente, para a Covid-19. Triste realidade para um povo que só queria viver tranquilamente em seu território, vivenciando a sua cultura.

Já a política desastrosa do atual governo segue com a sua cantilena. O mandatário maior da república, não somente vetou alguns aspectos da lei que visa o atendimento aos povos indígenas, mas também cancelou todo o processo de DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS que vinha acontecendo. Como se não bastasse, ainda incentivou a invasão das terras indígenas, com ações ilegais de madeireiros, agronegócio, garimpeiros, pecuaristas. Só no território Yanomami, um dos maiores territórios do país, que se estende por Roraima e Amazonas, onde vivem aproximadamente 26.780 indígenas, há cerca de 20 mil garimpeiros invasores, na extração ilegal de ouro. Foram estes que levaram, inclusive, o vírus para dentro das aldeias Yanomami.

Como manter viva a esperança de dias melhores? Como acreditar que veremos raiar um novo dia nesta terra que amamos e que segue sendo saqueada? A cada dia o sol nasce e nos apresenta um novo dia, mas as notícias que chegam até nós, não são as melhores e nem as que gostaríamos de ouvi-las. Um cenário de morte que nos cerca por todos os lados. Enquanto isso, não sentimos nenhuma segurança, vinda da parte daqueles que nos governam. Ao contrário, vemos que a ‘eminência parda’ que ocupa a ‘cadeira planaltina’, vive cheirando a enxofre e de braços dados com a morte, com a sua política genocida.

Como cristãos, somos seres de esperança. Vamos alimentando-a a cada dia. Como nos dizia Dom Paulo Evaristo Arns, de saudosa memória, já que não se faz mais bispos como antigamente: “De esperança em esperança.” Acreditamos até o último momento. Esperar contra toda esperança. Às vezes uma esperança indignada, como o bispo Pedro, faz questão de dizer, mas um espera confiante e trabalhada para que vire realidade em nós, com os outros.

Esperança da semente lançada pelo semeador. Semente que é vida, mas que precisa passar pela experiência da morte para ser mais vida para os outros, gerando frutos. Semente que necessita de terra fértil para que alcance frutos desejados. Semente lançada no coração, que precisa abrir-se para acolher a semente. Coração que nem sempre se abre para acolher. Coração que recebe a semente, mas que não cuida e nem dá condições, para que a semente lance as suas raízes, gerando frutos nada desejáveis. Coração que acredita na ação de Deus, que semeia a sua palavra e encontra uma grande acolhida, produzindo frutos. Como nos fala o papa Francisco, dirigindo-se às pessoas na Praça de São Pedro: “Estamos convencidos realmente de que Deus nos quer bem? Que ele pode cumprir o que prometeu? Qual seria o seu preço? Abrir o coração! A força de Deus ensinará o que é a esperança. Este é o único preço: abrir o coração à fé e Ele fará o resto!”. Que a semente caia num solo fértil de nosso coração e seja semente de vida!