Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum. O domingo é um dia diferente para nós. Momento de estar a sós com a família. Momento para descansar da labuta da semana. Momento de recolher, pensar e planejar a semana que virá pela frente. Para os cristãos, este é momento para estar junto com a comunidade eclesial: celebrar e conviver com os demais irmãos e irmãs. Afinal, Domingo, é o Dia do Senhor! Lembrando que, historicamente, no Antigo Testamento, o povo semita observava o “Dia do Senhor” no sétimo dia da semana, porque Deus descansou, conforme o Livro do Gênesis: “No sétimo dia, Deus terminou todo o seu trabalho; e no sétimo dia, Ele descansou de todo o seu trabalho”. (Gen 2,2). Todavia, após a Ressurreição de Jesus Cristo, o “Dia do Senhor” passou a ser vivenciado no primeiro dia da semana (Mc 16,2).
Meu domingo começou bastante cedo. Como o tempo não estava para chuva, resolvi rezar nesta manhã na companhia de Pedro. Ali, é como se o tempo não passasse. Um refúgio que sempre busco como forma de abastecer a minha espiritualidade. Espiritualidade libertadora que sobrava em Pedro, de quando esteve presencialmente no meio de nós. Agora funciona como um dos seus legados, que precisamos dar continuidade. Espiritualidade profética de um grande homem de Deus. Espiritualidade que ele vivenciava como um horizonte de um grito que vem de dentro, como fonte de inspiração e água viva para caminhada libertadora, testemunhando as causas do Reino.
Um domingo em que a liturgia nos coloca em sintonia com as mesmas causas de Jesus. O texto do Evangelho de hoje (Mt 5,13-16) não poderia ter sido melhor escolhido, nos fazendo refletir, situando-nos na caminhada dos tempos atuais. Jesus nos conclama a sermos sal e luz diante das perspectivas do mundo. Nosso bispo Pedro soube como ninguém ser esta luz para a caminhada desta Igreja com os seus desafios. Aliás, na minha caminhada pelo sacerdócio, posso dizer que eu tive grandes referências de luz. Dom Cláudio Hummes que me ordenou diácono; Dom Angélico Sândalo Bernardino, que me ensinou os primeiros passos no presbitério; Pedro que me fez conhecer e discernir a causa indígena e por ela viver os meus dias.
Somos chamados a ser sal e luz. Sal na medida certa. Luz que ilumina a nossa vida na caminhada com os irmãos. Sal que tempera as nossas relações de irmandade. Luz que nos faz caminhar no rumo certo, em sintonia com as mesmas causas de Jesus. Sal que tempera as nossas atitudes em favor da vida para todos os seres. Luz que é Jesus a caminhar conosco de mãos dadas pelas estradas da vida. Como Ele mesmo assim nos assegurou: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida”. (Jo 8,12) Ao declarar-se a luz, Ele nos convida a segui-lo, renunciando às riquezas para servirmos uns aos outros e, assim, testemunharmos a presença de Deus.
O mundo precisa de sal na medida certa. O mundo precisa da luz para clarear a escuridão das mentalidades doentias, daqueles que preferem viver na escuridão de suas más ações. Ser sal e ser luz não apenas por intermédio da palavra anunciada, pregada, mas pela palavra vivida e testemunhada pelas nossas ações em favor do Reino, como nos pede o profeta Isaías no texto da primeira leitura de hoje: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne”. (Is 58,7) O mundo precisa de testemunhas vivas da luz no meio de nós. Pessoas que abraçam as causas dos pequenos, sendo uma centelha de luz na vida delas, como faz o nosso querido padre Júlio Renato Lancellotti, sendo o tempero de esperança necessário e luz nas trevas do abandono na vida das pessoas em situação de rua, em São Paulo.
“Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”. (Mt 5,16) Ser sal e ser luz é fazer acontecer, pelas nossas ações, as obras do Reino. Estar com Jesus é sermos testemunhas do Reino. É através do testemunho coerente com Ele, que vamos fazendo acontecer as nossas obras. Não nos deixarmos comprometer com Jesus é deixar de ser discípulo do Reino. Através do testemunho visível de cada um de nós é que vamos descobrindo a presença e a ação do Deus invisível na nossa caminhada. Assim sendo, teremos a grande chance de fazer acontecer aquilo que fora predito pelo profeta Isaías: “Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. (Is 58,8) Estar com Jesus é ser sal e luz, praticando o direito e a justiça, em solidariedade com os oprimidos. Que assim seja! Axé! Awire! Wedi! Aleluia!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.