Servo inútil

Hoje é terça feira (10), mas quero ainda fazer referência ao dia anterior. No dia de ontem, em 1732, Santo Afonso Maria de Ligório fundava a Congregação do Santíssimo Redentor. Uma congregação pensada para seguir o exemplo de Jesus de Nazaré, anunciando a Boa Nova aos pobres. (Cabreiros) À época, Afonso estava com os seus 36 anos de idade. Entregou a sua vida em missão e serviço aos mais abandonados. Foi o Papa Bento XIV que aprovou a Congregação em 25 de fevereiro de 1749. A meu ver o desafio maior dos Redentoristas, é fazer uma leitura atualizada do carisma fundante, no intuito de dar respostas aos esquecidos e vulneráveis dos dias de hoje.

“Uma vez Redentorista, sempre Redentorista”. Este é o lema e o espírito que trago em mim, depois de passar 20 anos da minha vida na Congregação. Entrei no seminário em 1976, onde fiz os estudos, a partir do “colegial” até a teologia, sendo agraciado com a ordenação sacerdotal, pelas mãos do saudoso, Dom Lelis Lara, também redentorista como eu. Bebi do carisma fundante dos filhos de Afonso, a quem sou eternamente grato, por receber uma esmerada formação, humana, intelectual e espiritual, procurando aplicar no meu cotidiano aqui na Prelazia de São Félix.

No dia de ontem também perdemos um dos grandes teólogos que fez a sua páscoa, indo ao encontro do Ressuscitado. Aos 99 anos, morre em Goiânia Frei Carlos Josaphat. Teólogo dominicano, mineiro de Abaeté, (1921), com grande influência na política, tanto no meio católico quanto na sociedade civil. Frei Carlos, um dos principais intelectuais militantes do Brasil naquele momento de grande efervescência, dramaticidade e rupturas na política. Sobre ele, disse Pedro numa de suas missivas: “cidadão crítico e eclesiástico livre, intelectual orgânico do Reino, mestre espiritual, publicista profético, doutor em comunicação até para o Primeiro Mundo. Teólogo de cátedra e de chão, para suíços e para sertanejos”. Frei Carlos, Presente!

No contexto eleitoral e eleitoreiro que estamos vivendo, uma notícia triste chega até nós. Um número significativo de candidatos, às eleições municipais, figura entre aquelas pessoas que receberam o “Auxilio Emergencial”. Pessoas que possuem uma renda considerável cadastraram, e receberam aquilo que deveria ser destinado às pessoas mais necessitadas de nossa sociedade. Que tristeza! Será que este país ainda tem jeito? Claro que sim, mas precisamos passá-lo a limpo e varrer da nossa história tais espertalhões.

Passar o Brasil a limpo, este é o nosso grande desafio, a começar destas próximas eleições. A America Latina e os EUA já fizeram o seu dever de casa e nos deram uma grande lição e exemplo a ser seguido. Os nossos políticos precisam entender que entrar na política é fazer a opção de defesa dos interesses do povo em geral. Não é isto que vemos acontecer, nos carreiristas de nossa vida pública: “Bancada da Bala”; “Bancada Evangélica”; Bancada do Agro-veneno”; “Bancada do Boi” e por aí vai. Passar o Brasil a limpo é varrer esta pagina obscurantista de nossa história. Quem sabe não comecemos nestas próximas eleições?

No contexto bíblico de hoje nos deparamos com uma narrativa pra lá de polêmica. Jesus se refere aos seus seguidores como “servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”. (Lc 17, 10) Ou seja, temos um só dever que é o de cumprir com as nossas obrigações. Missão que cabe a cada um e cada uma de ser responsáveis por aquilo que somos e fazemos, assim como o empregado que sabe o que tem de fazer e o faz. Faz porque tem de fazer e pronto. Sem esperar recompensa ou elogios. Se os elogios vierem, claro que ficaremos gratos, mas se não vierem, já cumprimos com a nossa missão/obrigação.

Fiquei muito triste também quando vi numa das publicações anônimas das redes sociais, um padre queixando-se das suas multiações. Segundo o texto, o referido padre começa dizendo que o ser PADRE está classificado entre as quatro “profissões” mais difíceis do mundo. Sacerdócio como profissão? Para inicio de conversa, já não gostei da palavra “profissão”. Depois ele acaba elencando uma infinidade de atividades as quais ele estava obrigado a fazer, como forma de dar conta de seu trabalho. O texto passa a ideia equivocada de que o padre tem muitos afazeres. Eu sempre penso comigo que quem é um “faz tudo”, corre o risco de nada fazer. Contento-me em fazer uma coisa de cada vez e fazê-la bem feito. Somos servos inúteis, no sentido que não fazemos mais do que a nossa obrigação, na tentativa de seguir os passos do Mestre, que espera e confia em nós. Que Santo Afonso nos ajude nesta missão!