Reflexão: Liturgia da Sexta-feira Santa
Paixão do Senhor, Ano A – 07/04/2023
Na Liturgia desta Sexta-feira Santa, veremos, na 1a Leitura (Is 52,13-53,12), que Isaías apresenta o Servo Sofredor desfigurado pela dor e sofrimentos, isto é, em sua máxima humilhação. Isaías descreve a paixão do Servo: ele é justo e inocente, mas sofre as consequências de uma estrutura injusta da sociedade onde vive e, por isso, morre esmagado sob o peso dos erros de todos. Contudo, é por meio de seu aparente fracasso que o projeto de Deus vai triunfar: o Servo é glorificado e traz a salvação para todos. É Deus quem age em seu Servo e é o Servo que, voluntariamente, se une à ação de Deus e a faz sua.
A 2ª Leitura (Hb 4,14-16;5,7-9) evoca o sacerdócio e os sacrifícios do templo, põe em evidência a grandeza do sacerdócio e do sacrifício de Cristo. O texto destaca que Cristo fez-se em tudo semelhante a nós e, por isso, capaz de compadecer-se com o nosso sofrimento.
No Evangelho (Jo 18,1-19,42), o evangelista João descreve que a cruz é indispensável para que a obra de Deus não fique infrutífera e atinja sua perfeição. A cruz é o verdadeiro e definitivo sacrifício pascal que reúne o povo da nova aliança. Jesus assumiu a cruz por ser fiel ao Pai e à humanidade até o fim.
Ao narrar a paixão de Jesus, os Evangelhos praticamente retomam o quarto Cântico do Servo Sofredor (1ª leitura) em todos os detalhes: na sua vida e morte, Jesus se identificou completamente com o povo pobre que, em todos os tempos e lugares, é vítima da injustiça e exploração, da opressão e esquecimento. Na celebração deste dia, unimo-nos a Jesus, Servo Sofredor, em seu julgamento e condenação. Despojamento e silêncio marcam esta celebração, que consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração de Cristo na cruz e rito da comunhão.
Coloco, a seguir, um comentário do Pe. Júlio Antônio da Silva, publicado em 21/03/16, no site da nossa Arquidiocese de Maringá:
“A Sexta-feira Santa, tradicionalmente chamada de ‘Sexta-feira maior’, celebra o dia em que o Filho foi exaltado e atraiu toda a humanidade para si. É um dia de jejum e de penitência para colocar-nos diante do mistério do maior amor de Jesus na cruz. Lá, morto, deixou seu coração partir. Do coração partido, nascem os sacramentos da Igreja.
É o único dia do ano em que não se reza Missa. Porém, há uma celebração chamada Celebração da paixão do Senhor, normalmente celebrada perto das 15h, hora em que, segundo a tradição, Jesus foi martirizado e morto. A cor litúrgica é a vermelha. Lembra o sangue do mártir Jesus e o sangue de tantos mártires de ontem, de hoje e de sempre. Todo o dia de hoje deve estar voltado para o significado dessa celebração. Ela começa com um gesto muito significativo de despojamento.
O presidente da celebração prostra-se por terra, em silêncio. Segue uma oração. Depois, começam os textos bíblicos referentes ao significado da entrega total do Servo de Deus e a narrativa da Paixão de Jesus segundo São João. A liturgia da Palavra é encerrada com a Oração Universal, na qual a Igreja reza pelas mais variadas intenções. Segue a adoração da cruz, sinal de salvação para todos. Eis a razão pela qual cantamos: “Vitória, tu reinarás, ó cruz, tu nos salvarás!” A seguir, há o rito da comunhão eucarística. Comungando o Cristo hoje, participamos da Páscoa de sua Cruz. A celebração termina em silêncio. Sinal do silêncio que devemos guardar até a Vigília Pascal, na noite do Sábado Santo”.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.