Os povos indígenas estão com muito medo. Assustados com tudo o que está acontecendo à sua volta. Um Vírus mortal, rondando suas aldeias e nada podendo fazer. Não bastasse a situação de pandemia, os ataques frontais às suas terras, pelo Governo Federal, assusta-os ainda mais. Ao ponto do cacique Raoni Metuktire, do povo indígena Kayapó, fazer uma afirmação assustadora: “Nós, povos da Amazônia, estamos cheios de medo. Em breve vocês também terão”
Os incêndios criminosos, que ocorreram no ano passado na Amazônia, foi algo que nos assustou a todos. Eu mesmo testemunhei situações que nunca tinha visto por aqui, ao longo destes anos todos que estou na Amazônia. Árvores de aproximadamente seiscentos anos, tombadas pela ação ilegal de madeireiros. Animais silvestres amedrontados, fugindo do fogo, destruindo tudo à sua frente. De chorar diante da nossa impotência em conter aquele crime brutal contra a floresta e de ver os animais morrerem queimados aos nossos pés, como se tivessem a nos dizer: olha o que vocês fazem conosco!.
Tudo indica, a continuar esta política genocida e irresponsável da FUNAI, a serviço do latifúndio, agronegócio, madeireiros e garimpeiros e contra os povos indígenas, a tendência é de que neste ano, a situação será ainda pior. Bem que Raoni continua nos alertando: “Por muitos anos, nós, os líderes indígenas e os povos da Amazônia, temos avisado vocês, nossos irmãos que causaram tantos danos às nossas florestas. O que você está fazendo mudará o mundo inteiro e destruirá nossa casa – e destruirá sua casa também.”
O órgão do Governo Federal que deveria primar-se pela defesa dos povos indígenas, faz é jogar na contra mão, satisfazendo os interesses de MADEIREIROS, GARIMPEIROS, a turma do AGRONEGÓCIO. Veja a última cartada da FUNAI que editou uma medida que permite a OCUPAÇÃO e VENDA de terras indígenas que ainda esperam por HOMOLOGAÇÃO. Com esta medida, mais de 200 terras indígenas poderão ser transformadas em imóveis privados. Alem do que, a medida adotada pelo atual governo ainda prevê a MINERAÇÃO em terra indígena. Tudo afeito aos interesses daqueles que sempre tiveram olhos gordos para com as terras ocupadas pelos povos indígenas.
Segundo informações do ISA – Instituto Sócio Ambiental “O Brasil tem 237 terras indígenas em PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO. Esse processo demora anos, alguns tiveram início em 1982 e ainda não foram concluídos. Essa medida permitirá que qualquer uma dessas terras ocupadas por comunidades indígenas sejam consideradas imóveis privados”, explica a advogada do ISA.
Tenho conversado com algumas lideranças indígenas que tem manifestado muita preocupação frente a este atual cenário. Estas lideranças estão mais preocupadas ainda, porque não podem contar com o órgão que, teoricamente era quem poderia defendê-los. E neste cenário de pandemia, a situação se agrava ainda mais porque não podem se mobilizar e buscar a defesa de seus direitos fora das aldeias, com medo de serem contaminados pela covid-19. As lideranças entendem que só podem contar com a igreja, o ISA, CIMI, OPAN, dentre algumas poucas instituições parceiras.
Fiquemos, por fim, com o desabafo da grande liderança Raoni, que defende intransigentemente os interesses de seu povo e também os nossos, já que somos habitantes do mesmo planeta. “Pedimos que você pare o que está fazendo, pare a destruição, pare o seu ataque aos espíritos da Terra. Quando você corta as árvores, agride os espíritos de nossos ancestrais. Quando você procura minerais, empala o coração da Terra. E quando você derrama venenos na terra e nos rios – produtos químicos da agricultura e mercúrio das minas de ouro – você enfraquece os espíritos, as plantas, os animais e a própria terra. Quando você enfraquece a terra assim, ela começa a morrer. Se a terra morrer, se nossa Terra morrer, nenhum de nós será capaz de viver, e todos nós também morreremos. Você destrói nossas terras, envenena o planeta e semeia a morte, porque está perdido. E logo será tarde demais para mudar”