Somos chamados por Deus e enviados em Missão: “Ai de mim se não evangelizar” (1Cor 9,16)

Reflexão litúrgica: Quarta-feira, 06/07/2022
14ª Semana do Tempo Comum,
Memória Santa Maria Goretti, virgem e mártir

Na Liturgia desta quarta-feira, XIV Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Os 10,1-3.7-8.12), que Deus tinha um projeto para seu povo e o realizou completamente, dando-lhe vida e prosperidade. Israel, porém, ficou sempre dividido entre os apelos de Deus e a sedução dos deuses cananeus, entre a confiança em Deus e a política de interesses, que produzia a injustiça, entre a obediência interior à vontade de Deus e um culto puramente exterior. Esta duplicidade acabará levando Israel para o exílio. Para saber o futuro, basta olhar as ações presentes e deduzir as consequências benéficas ou maléficas para a pessoa e para toda a sociedade.

No Evangelho (Mt 10,1-7), é Jesus quem chama e envia os seus apóstolos para evangelizar. Nós, também somos chamados e enviados por Jesus para anunciar a paz e a vida nova num mundo ferido por muito sofrimento. Neste envio, as instruções são explicitas: mansidão, pobreza, ser portadores de paz, contentar-se com o que há, interessar-se pelos necessitados e anunciar o Reino; se rejeitados, repetir o anúncio; não se deixar levar por um entusiasmo fácil diante do sucesso; a única coisa válida é ser membros do Reino; enfim, estar convencidos de que o Reino não se constrói em um dia.

O que vai garantir o sucesso da missão não será a abundância de poder econômico, nem na força mediática, mega shows, aparência estética, muitas rendas, fumaça, espetáculos etc. Não podemos achar que a força da evangelização está na ‘teologia do pano, na liturgia da fumaça e na pastoral do espetáculo’. Alguém já dizia: “Quanto mais pobre o circo, mais enfeita-se o palhaço”. O próprio modo de viver, na simplicidade, já é suficiente para dar testemunho de Jesus Cristo: “Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho”. Um mundo melhor possível, sempre será fruto do próprio Deus que toca na interioridade humana. Não adiantaria termos uma inteligência excelente, uma perfeita organização pastoral, empenharmos todos nossos esforços e recursos possíveis se não contássemos com a ajuda e a graça de Deus: “Se Deus não construir a nossa casa em vão trabalham os operários” (Sl 126). A bíblia nos dá essa conscientização e no Documento de Aparecida (246ss) quando fala da formação dos discípulos missionários a Sagrada Escritura ocupa um lugar de destaque na construção de um mundo melhor possível a favor do ser humano, como já dizia o Papa Paulo VI: “O homem poderá construir um mundo sem Deus, mas sem Deus construirá contra o próprio homem” (Populorum Progressio, 42). Um mundo melhor possível será sempre obra do próprio Deus que age na vida de seus filhos e filhas.

Hoje, também, Jesus nos envia em missão para viver a caridade, sentir os desafios de viver em comunidade, não somos nós que escolhemos a direção, a missão não deve ser um peso, mas um gosto, um prazer: “Eis que venho, com prazer faço a vossa vontade!” Por isso não podemos abandoná-la por qualquer motivo, mesmo quando rejeitados: “Se em algum lugar não vos receberem nem vos escutarem, saí dali e sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra eles”. Dos destinatários da missão se requer a acolhida ao missionário como enviado de Deus e a docilidade à Palavra divina por ele proclamada, caso contrário fecha-se para si mesmo o caminho da salvação.

Para concluir esta reflexão, coloco algumas características da missão de Jesus e de seus discípulos: “Eles partiram, pregavam a conversão, expulsavam demônios e curavam doentes”.

1º) Mudança radical – conversão;

2º) Desalienar as pessoas – libertar dos demônios;

3º) Restaurar a vida – curar as pessoas;

4º) Estar consciente que a missão vai provocar choque com os que não querem transformação da realidade.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.