Testemunhar como ato de fé

Terça feira da Segunda Semana da Páscoa. No clima pascal, seguimos manifestando a nossa fé e testemunhando o Mistério de Deus revelado na pessoa do Filho. A cristandade celebra neste período uma festa que é composta por três momentos distintos, mas interligados: Páscoa do Ressuscitado, Ascensão e Pentecostes, que é a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e nós. Uma festa eclesial de suma importância para nos mantermos firmes na fé (perseverança), alimentando a esperança dos seguidores de Jesus.

Um dia de alegria para o universo infantil brasileiro. Neste dia 18 de abril, comemoramos o Dia Nacional do Livro Infantil. Esta feliz data foi escolhida para fazer referência à literatura infantil nacional na pessoa do Pai da Literatura Infantil. José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948), que nasceu no dia 18 de abril de 1882. Apesar de exercer várias funções como, advogado, promotor, escritor, editor, ativista e tradutor brasileiro, foi na literatura infantil que teve seu maior destaque. Urupês (1918), de sua autoria, foi o primeiro livro que li na minha carreira de leitor e fiquei fascinado e cativado pela sua arte de escrever.

A vida não se faz somente de momentos alegres, mas também de tristezas. Se já havíamos perdido Dom Celso de Queiroz no dia de ontem, também perdemos do nosso convívio neste plano, a pessoa do Uruguaio Júlio de Santa Anna. Teólogo leigo e educador popular da Igreja Metodista, Júlio um ser humano sem igual. Dedicou a sua vida a nos ajudar a viver a fé num contexto ecumênico libertador, nos aproximando do Kérigma (anúncio) de Jesus de Nazaré. Convivemos muito próximo dele de quando era ele o Secretário Executivo do Centro Ecumênico de Serviços para a Evangelização e para a Educação Popular (CESEEP), nos primeiros anos do Curso de Verão, na PUC de São Paulo.

Acreditar que a morte é a passagem para a vida plena é o mistério maior do Cristão que faz a sua adesão ao seguimento de Jesus. Vida que segue em forma de testemunho, anúncio e profecia. Na Páscoa do Ressuscitado estamos todos irmanados, testemunhando o mistério insondável da presença de Deus no seu Filho Jesus descido da cruz. Testemunhar como ato de fé. Mesmo sem ter passado pela experiência mais profunda de estar com Jesus no contexto de sua presença pública entre nós, levamos no coração o Sopro Divino do Espírito, que nos motiva a seguir adiante, acreditando e testemunhando com as nossas vidas nesta trajetória histórica que aqui vamos fazendo.

A liturgia nos ajuda a pensar esta realidade do Mistério Pascal de Cristo. O texto que nos é proposto para o dia de hoje é o prolongamento do diálogo de Jesus com uma das lideranças judaicas. Homem sábio e profundo conhecedor das Leis (Torá), Nicodemos era um dos membros do Sinédrio. Seu próprio nome já dizia de quem era ele. Nicodemos no grego quer dizer “conquistador do povo”. É com este homem que Jesus faz a sua interlocução, tentando convencê-lo da necessidade de passar por uma mudança radical significativa em sua vida, para conseguir dar passos em direção ao Projeto Salvador de Deus: Reino.

Estamos refletindo tendo como base a literatura Joanina. Neste contexto é importante salientar que o evangelista João escreveu o seu evangelho por volta do ano 60 d.C. e 100 d.C., visando às pequenas comunidades que estavam espalhadas pelo Império Romano, em particular a Ásia Menor. As comunidades estavam sendo perseguidas pelo Império Romano, com prisões, gente martirizada, sofrendo para se manter na fé dos apóstolos. Naquele contexto, o Imperador Romano era apresentado como o novo Jesus e salvador. Um povo sofrido, perseguido em meio a falsas doutrinas e falsos líderes, arrefecendo assim o entusiasmo da fé dos primeiros seguidores. Bem aquilo que o Livro do Apocalipse também vai alertar: “Mas há uma coisa que eu reprovo: você abandonou seu primeiro amor”. (Apoc 2,4)

João é bem diferente dos demais evangelhos. Uma linguagem mais bem elaborada. Ele apresenta Jesus como o Verbo encanado de Deus. Para João, Jesus é o enviado de Deus, aquele que revela o Pai à humanidade. Uma linguagem carregada de amorosidade, pois para ele, Deus ama muito as pessoas e quer dar-lhes a vida. Em João, na pessoa de Jesus há a revelação desse amor que realiza a vontade do Pai, dando sua vida em favor de todos. É bem isto que Jesus está tentando fazer Nicodemos entender. Nem todos conseguirão absorver este Mistério de Amor de alguém que é capaz de dar a sua vida por amor. Somente através de uma mudança radical de vida (conversão), poderemos entender a profundidade do Mistério da Ressurreição. Assim fazendo, poderemos experimentar em nós a conclusão deste evangelho de hoje: “para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna” (Jo 3,15) Sem abandonar o primeiro amor.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.