Os dias vão passando e algumas das nuanças de nossas vidas não mudam. Somos uma sociedade marcada pelo famoso “JEITINHO BRASILEIRO”. Da MALANDRAGEM desmedida e daqueles que tem como filosofia ‘o importante é levar vantagem em tudo’. Por mais que o tempo passe, estas coisas miúdas, mas de um significado tão perverso, ainda continuam a acontecer entre nós. A vergonha parece ser um produto escasso nas redes de supermercados das nossas vidas.
No texto escrito pela comunidade de Mateus, há uma passagem que se refere às trinta moedas de prata: “Assim se cumpriu o que tinha dito o profeta Jeremias: Eles pegaram as trinta moedas de prata – preço com que os israelitas o avaliaram – e as deram em troca pelo Campo do Oleiro, conforme o Senhor me ordenou.” (Mt 27, 9-10) O texto em questão faz referência as trinta moedas de prata que Judas, o traidor, recebeu das autoridades romanas para trair o seu mestre.
Há um erro de referência neste texto e alguns exegetas atribuem este erro ao copista. Na realidade, a profecia não era de Jeremias, mas antes, de Zacarias, que assim se manifestou: “Então eu disse: Se estão de acordo, façam o meu pagamento; se não, deixem. Então eles pesaram o dinheiro do meu pagamento: trinta siclos de prata. E Javé me disse: Envie ao fundidor este preço fabuloso com que fui avaliado por eles. Eu peguei os trinta siclos de prata e os mandei ao fundidor no Templo de Javé”. (Zc 11, 12-13)
Lancei mãos destes textos bíblicos para ilustrar de como, nas sucessivas sociedades a SORTE do JUSTO vai sendo sempre tramada pelos mercadores de plantão. A ponto do profeta Habacuc dizer alto e bom som: “Por isso, a lei perde a força e o direito nunca aparece. O ímpio cerca o justo e o direito aparece distorcido”. (Hb 1, 4). Quando menos se espera, o justo está sendo trapaceado por aqueles que deveriam fazer cumprir a lei.
Nestes tempos de isolamento social há famílias passando necessidades extremas. Alguns deles, passando FOME. Geralmente são aquelas pessoas que trabalham na INFORMALIDADE. Assim, se trabalha evidentemente que terá o seu dinheirinho para ir sobrevivendo. Se não trabalha, não tem nenhum rendimento. Foi justamente para os trabalhadores informais e autônomos de baixa renda, que foi pensado o AUXILIO EMERGENCIAL, dividido em três parcelas de 600 reais. Para alguns, a primeira parcela até que caiu na conta. Entretanto, dezenas de milhares de pessoas, não viu a cor do dinheiro. Está em ANÁLISE. Coincidentemente, o Ministério da Defesa nos informa que 73.242 militares das Forças Armadas receberam indevidamente o auxílio emergencial. O sistema deve ter errado.
Alguma coisa está errada entre nós. Evidentemente que não podemos GENERALIZAR. Se somos o Brasil do “JEITINHO”, há também entre nós, pessoas sérias e comprometidas, que pensam um outro BRASIL POSSÍVEL, diferente. Se generalizarmos, incorremos no erro de achar que todas as pessoas são iguais e, por isso NÃO TEM MAIS JEITO. Desta forma, poderemos jogar a criança fora, junto com a água que a banhou. Precisamos repensar este outro Brasil possível. Quem sabe, no PÓS PANDEMIA, não tenhamos a grande chance de recomeçar outra HISTÓRIA, baseada em VALORES e PRINCÍPIOS, que coloca o SER HUMANO como o valor maior? Construir uma sociedade mais igual, em que os POBRES possam viver com maior dignidade. Não uma sociedade fundamentada no LUCRO e na POSSE DESENFREADA de alguns, em detrimento da maior parte, que são aqueles que, de fato, trabalham para fazer este país ser GRANDE como é. Depende de cada um de nós. Esta é hora. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”