Tu és o Messias

Segunda-feira (22) da primeira semana da quaresma. Dia de festa para a Igreja Católica. Celebramos hoje a Cátedra de São Pedro. Depois da comovente declaração de Pedro à Jesus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16), o mestre se volta para o pescador e diz: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi nem a carne, nem o sangue que te revelou isso, mas meu Pai que está no céus, e eu te declaro: Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; eu te darei a chave dos céus tudo que será ligado na terra serás ligado no céu e tudo que desligares na terra, serás desligado nos céus” (Mt 16, 17-19)

Papa Francisco, que segue na linha sucessória de Pedro, aprontou mais uma das suas. Ele sempre nos surpreende com as suas atitudes. Neste sábado passado, foi visitar Edith Bruck, uma escritora húngara, de 90 anos de idade, que reside em Roma. Esta senhora é uma das sobreviventes do Campo de Concentração de Auschwitz. Francisco se impressionou com o testemunho de Edith, após os relatos do que havia passado num campo de concentração e quis conhecê-la de perto, visitando-a de surpresa. É a humanidade de Francisco falando mais alto.

Humanidade que falta à nossa igreja, castigada pela péssima atuação de alguns de seus membros, dando verdadeiros contra testemunhos. Em nada se parecem com a ternura que sobrava em Jesus. Um caso emblemático, foi o que ocorreu na diocese de Jundiaí (SP), em que o bispo, muito senhor de si, afastou o padre José Carlos Pedrini, que havia convidado um pastor evangélico para participar da celebração da missa de Cinzas, na quarta-feira (17). Agiu como se fosse um autentico proprietário da Igreja. Isso depois de termos uma Campanha da Fraternidade que trata da temática do ecumenismo. Certamente este equivocado pastor, é também um daqueles contrários a CFE de 2021.

Estamos vivendo tempos muito estranhos e conturbados em nossa caminhada de Igreja. As pessoas estão revelando realmente quem elas são de fato. E o que mais nos entristece é saber que, tais pessoas, dão mostras de que sempre foram assim. Apenas estão dando as suas caras. Mesmo com todo o sofrimento que estamos passando, parece que não estamos aprendendo nada com esta pandemia que aí está. Tudo isso nos faz entender, que estamos muito distantes do Projeto de Deus revelado em Jesus de Nazaré. “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”(Ef 2,14). Nem assim, as pessoas se dão conta da proposta sugerida pela campanha.

Tempos soturnos. Não somente pela crise sanitária que estamos vivendo, mas também pelo falta de um governo sério a comandar os destinos deste país. Os preços subindo dia após dia. Aqui em São Félix, já estamos pagando R$ 120,00 por um botijão de gás. A gasolina passou de R$ 6,00 nas bombas. Aonde tudo isso vai parar não sabemos. Entretanto, esta crise não chegou para todos. É o caso, por exemplo, de um dos empresários daqui do estado, que fez a singela doação de um milhão de reais a um time de futebol, sem exigir nenhuma contrapartida. Fico me perguntando se este nobre senhor fez qualquer tipo de contribuição para aquelas pessoas que estão passando fome com o encerramento do auxilio emergencial. Com a alta dos preços dos combustíveis, estou impossibilitado de fazer o acompanhamento das aldeias que depende do veiculo para chegar até elas. Apenas com o meu salário, não dou conta de arcar com o abastecimento. Triste mas esta é a verdade.

Frente a tantas dificuldades que estamos passando, muitos estão se perguntando: onde está Deus afinal, em meio a esta grande pandemia? Não está ELE vendo tudo o que está acontecendo? Será que virou de vez as costas para o seu povo? Que Deus é este que, na hora que mais precisamos d’Ele, se faz de ausente? Será que todas estas mortes acontecidas não importam para Deus? São perguntas muito pertinentes, e que precisamos ter muita calma, para tentar entender o que está se passando, e como Deus se coloca diante deste cenário todo.

Todavia, a primeira ideia que precisa ficar clara para cada um de nós é a de que Deus nunca abandona os seus. Um Deus que se faz presente o tempo todo no meio de nós. E ELE faz isso não por merecimento nosso, mas pela sua fidelidade em nos amar infinitamente, acima de qualquer das nossas possibilidades. Vejo esta presença concreta de Deus no meio de nós. Vejo a face deste Deus misericordioso na atitude daquele médico e da enfermeira que entraram na água e atenderam uma criança no meio da enchente no Acre. Se vejo Deus presente nesta realidade, não posso dizer o mesmo daqueles que exaltam a falácia do “deus acima de tudo”. Como bem nos disse o teólogo Leonardo Boff: “O Deus de Bolsonaro não é o Deus dos muçulmanos, nem o Deus dos hebreus, nem o Deus dos cristãos. É MOLOQUE dos cananeus, aquele que exigia sacrifícios humanos. Pois ele, cada dia sacrifica vidas de brasileiros, especialmente pobres e negros ao ‘deus’ acima de tudo”.