Tu és o Messias

 

Domingo (04), solenidade de São Pedro e São Paulo. Dois grandes expoentes da Igreja. Já nos primórdios, do cristianismo, estes dois grandes homens tiveram participação decisiva na construção da proposta de Jesus. O primeiro fora chamado diretamente por Jesus. Conviveu com Ele desde o início de seu Projeto messiânico. Estava ali lado a lado com o Mestre. Um homem rude, mas de um coração sem igual. Vivia na simplicidade, como mero pescador. O segundo chegou depois. De cruel perseguidor dos primeiros cristãos, transforma-se num deles, sendo fiel à Jesus, após cair literalmente do cavalo.

Devemos lembrar que ambos, assim como Jesus, foram perseguidos e assassinados pelo poder absoluto do Império, mancomunados com as lideranças religiosas da Palestina. Pedro recebeu a sentença da crucificação. Por um pedido seu, decidiu ser crucificado de cabeça para baixo, já que, em decorrência de sua humildade, não se achava digno de ser crucificado como o seu Mestre. Paulo, ao contrário, teve a sua cabeça decepada. Ambos morreram felizes, por terem sido perseguidos por causa de Jesus. Levaram a sério aquilo que ouviram d’Ele: “No mundo haveis de ter perseguições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Este foi o destino de grande parte daqueles e daquelas que se colocaram na mesma perspectiva de caminhada com Jesus. O destino de muitos deles e delas foi o mesmo calvário de Jesus. Aliás, Jesus não engana os seus seguidores e seguidoras: se forem fieis neste seguimento, a vida se transformará em permanente testemunho, em meio a lutas e perseguições. Enganam-se quem pensa que Estar com Jesus significa “sombra e água fresca”. Todavia, é também tempo de confiança de paz inquieta, pois os cristãos sabem que podem contar com o amor infinitamente misericordioso do Pai. E assim, desde já, podem estar certos da vitória maior: Jesus já venceu todos os adversários. Para quem acredita n’Ele, toda a ordem social injusta, que condena o pobre, o justo inocente, está condenada ao fracasso para sempre.

Sim, felizmente, já estou em minha casa. Depois de 38 dias longe dela, cheguei ontem, cheio de esperança renovada. Meu coração quase que saia pela boca, de tanto contentamento. Nem consegui dormir naquele ônibus, de tanto que era o meu desejo de voltar logo ao meu cantinho. O tempo todo da viagem revivi, com num filme, tudo que passei, desde o momento que fora constado, através daquele exame, que eu havia tido um AVC. Assim que desci do ônibus, chorei o choro aliviado, de quem corria o risco de nunca mais voltar ao meu Araguaia. Sinto uma nova vida brotando de dentro de mim. Lembrando sempre que o Senhor me deu esta nova chance, para estar a serviço dos seus aqui por estas bandas.

Já experimentei hoje, pela manhã, uma calorosa recepção. Meus costumeiros hóspedes, vieram receber-me no meu quintal. Uma ruidosa sinfonia, se fez ouvir de uma centena de pássaros, como se estivessem reverenciando-me de volta ao meu sagrado espaço. Eles sabem que grande parte das frutas que cuido, são para eles mesmos. Meus ouvidos estavam com saudades destes acordes e não fiz nenhum esforço para conter as lágrimas. Deus é bondade e compaixão! Ele tem sido muito generoso para com este pobre servidor seu, que sabe não ser merecedor de tudo quanto tem recebido d’Ele. Quisera eu ter a mesma convicção do apóstolo Paulo ao afirmar com muita certeza de si: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)

Depois de passar pela experiência do pobre de Assis, com a recepção de gala, oferecida pela passarada, fui rezar no túmulo do pastor, poeta, profeta. Desta vez, seu túmulo estava coroado com as flores do pequizeiro, que nesta época do ano estão caindo, prenunciando muitos frutos. Tudo muito simples, como era também simples a vida deste peregrino que passou entre nós, mostrando-nos, através de sua coerência e fidelidade, como se faz o seguimento do Crucificado que Ressuscitou entre nós. Já não estou falando mais de Pedro, o pescador de outrora, mas de Pedro, o profeta dos excluídos. Já no epitáfio ali exposto naquela tosca cruz de madeira, se pode perceber a mesma simplicidade e simetria entre estes dois Pedros: “Para descansar eu quero só esta cruz de pau com chuva e sol estes sete palmos e a Ressurreição”.

“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16, 16) Respondeu a queima roupa, aquele pobre pescador, convidado por Jesus, para fazer parte dos seus. Este homem rude e de poucos estudos, faz uma das declarações mais belas, acerca de quem era Jesus, resumindo numa frase toda a sua missão entre nós. Se Pedro é considerado como o fundamento da comunidade que Jesus está organizando, dando continuidade dela, o nosso Pedro de agora, é aquele, que soube como ninguém, edificar uma Igreja Povo de Deus, de pés descalços, a serviço do Evangelho, no formato de redes de comunidades vivas. Pedro do Araguaia que, numa das estrofes de seus poemas assim se definiu: ”Me chamarão subversivo. E lhes direi: eu o sou. Por meu Povo em luta, vivo. Com meu Povo em marcha, vou.” (Canção da foice e o feixe) Daí a minha preocupação e o receio de que não pudesse mais sonhar o sonho desta Igreja, desejoso que estava de para cá voltar logo.