Um coração de esperança

Quinto Domingo da Páscoa. Dia do Senhor! Dia de celebrar a Festa da Vida do Ressuscitado. Dia de recolher, meditar, entrando em sintonia com a Palavra que é vida em Jesus presente no meio de nós: “E a Palavra (Verbo) se fez gênero humano e veio morar entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”. (Jo 1,14) Ou seja, antes da criação, o Filho já existia em Deus, voltado para o Pai: estava em Deus, como a Expressão de Deus, eterna e invisível. Este Filho é a Imagem de unicidade com o Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo de mútua comunicação.

A profundidade deste linguajar teológico para dizer que o Filho já existia e era presença viva no Pai e, ao vir nos visitar, trouxe consigo este Pai amoroso que fez questão de que o seu Unigênito fizesse morada definitiva entre nós, se tornando gente como a gente. Nosso companheiro de todas as horas, assumindo caminhar conosco pelas veredas de nossa existência. Uma presença que renova a esperança em nosso coração, permitindo-nos sonhar o mesmo sonho de Deus, vida plena para os seus. Quem com Ele caminha não sente perturbar o seu coração.

O texto que nos é proposto refletir neste Quinto Domingo faz parte do “Discurso de despedida de Jesus” (Jo 14,1-12). A literatura joanina nos coloca diante das horas decisivas da missão do Jesus histórico junto aos seus. Ele havia acabado de realizar a Ceia com o seu discipulado e está prestes de anunciar a sua paixão. A angústia de seus discípulos é um misto de frustração, decepção e expectativa. A hora está chegando e os seus seguidores sentem-se incomodados, cheios de perplexidades. A sensação inicial é de abandono, quando Jesus lhes diz que Ele iria para a casa do Pai.

“Senhor, não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5). Por mais que Jesus lhes houvesse preparado para a chegada desta hora, os discípulos não conseguiram abstrair toda a dimensão do significado desta sua partida. É por este motivo que Ele busca devolver-lhes a esperança dizendo: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também”. (Jo 14,1) É preciso acreditar que a sua partida para a casa do Pai não é o fim de tudo, mas o início de uma nova jornada, uma vez que o caminho percorrido por Ele é claro. N’Ele se encontra a verdade. Por Ele se alcança a vida. Com Ele se vai ao Pai. Jesus é o passa-porte para a morada com o Pai.

A esperança vence o medo da morte. A porta de entrada para a felicidade plena passa necessariamente pela experiência da cruz do calvário. Todos nós temos os nossos calvários em vida. Estar com Jesus não significa que estaremos isentos dos desafios, das dificuldades e dos mares revoltos de nosso ser neste mundo, mas diante deles todos, temos a força suficiente para levantar dos tropeços, erguermos a nossa cabeça e dar continuidade na caminhada, acreditando e rezando com o salmista: “Esteja sobre nós o teu amor, Senhor, como está em ti a nossa esperança”. (Sl 33,22)

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. (Jo 14,6) O caminho da vida na sua plenitude maior passa por Jesus, uma vez que Ele é o verdadeiro caminho para a vida em Deus. Com Ele não há atalhos, como costumamos fazer, principalmente quando estamos em busca de privilégios, regalias e interesses próprios. Quem caminha com Jesus não caminha para o fracasso ou para o fim sem saída. A luz no fim do túnel se chama esperança que renasce da Ressurreição do Filho que é vida e quer que a tenhamos em todo o seu esplendor.

Trilhando o caminho de nossa humanidade histórica, chegaremos à Divindade que é Deus em Jesus. Encarnando em nossa realidade humana, Jesus nos abriu a porta de entrada do estar com Deus. O Divino assumindo a nossa condição humana e nos fazendo seres Divinizados. Caminhos de vida e esperançamento, fazendo acontecer entre nós os sinais do Reino. Caminhos que a gente é, caminhos que a gente faz. Cada um de nós faz o seu caminhar. Somente nós mesmos podemos fazer o nosso caminhar. As nossas realizações encontram-se no horizonte dos nossos sonhos, desejos, utopias. Com um coração de esperança, andar em frente e de cabeça erguida nos passos de Jesus, no chão concreto da história, fazendo nossas as palavras ditas pelo teólogo de Hipona Santo Agostinho: “Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és. A verdadeira felicidade não consiste em ter muito, mas em contentar-se com pouco”.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.