E não é que o domingo chegou. Um domingo acalorado e fumaça por todos os poros. Com tantas aberrações e atrocidades cometidas neste país chamado Brasil, fiz uma experiência diferente esta semana. Refugiei-me em Gramsci, retomando a leitura de um dos seus livros, que fazem parte do meu acervo literário. Mergulhei de cabeça na leitura no livro “Gramsci e a questão religiosa”. Uma produção de 1984, que as Paulinas editaram. Nesta obra o autor se debruça sobre uma analise do fenômeno da religião e, mais especificamente, o cristianismo e a igreja católica.
Gramsci era fenomenal na sua escrita pelo viés do pensamento de esquerda. Este filósofo italiano nos ajudou a entender, como a cultura influencia importantes mudanças na sociedade. Passou oito anos de sua vida na prisão, por causa de sua luta incansável contra o fascismo na Itália. Com uma vida recheada de lutas contra as desigualdades, Antonio Gramsci morreu ainda muito cedo, no ano de 1937, aos 46 anos de idade. Um jornalista de ideais notáveis, viveu o tempo suficiente para fundar o primeiro partido comunista da Itália.
Nos meus tempos de estudante de teologia, aprofundei muito na leitura de Gramsci. Confesso que este grande filósofo ajudou-me a fazer a síntese do pensamento cristão, fundamentado pelas ideias marxistas, razão pela qual fiz ali a minha opção de ser também alguém que pensa pela esquerda. Compreendi muito cedo também que estar do lado de Jesus é estar envolvido nas lutas sociais, na tentativa de superação das contradições das desigualdades que fere e mata o corpo dos pobres.
Uma das frases ditas pelo filosofo italiano ajudou-me muito na construção do meu pensamento: “Dizer a verdade é sempre revolucionário”. Gramsci também fez envolver-me com a Teologia da Libertação. Com esta teologia e as categorias de análises marxistas, consegui entender melhor os mecanismos de exploração dos pobres aqui na nossa América Latina. Um jeito próprio de pensar teológico que coloca os pobres como protagonistas do processo de transformação. Uma teologia encarnada na realidade de empobrecimento de todo um continente.
Viver neste continente e não se posicionar frente a injustiça que crassa entre nós é não fazer parte do grupo de Jesus. Para os seguidores do Nazareno, impossível não se posicionar ao lado dos pequenos. Pequenos estes que seguem sendo explorados, maltratados, sugados pelos planos econômicos que só sabem omitir direitos. Como ser indiferentes neste contexto e ainda dizer que seguimos o Homem de Nazaré? Não foi atoa que o próprio Gramsci já nos dizia que: “A indiferença é o peso morto da História”. Jesus aqui é o crucificado com os crucificados da história que clamam por libertação.
No momento que aqui estou diante do computador, me chega a informação de que o Parque Nacional do Xingu está se acabando em chamas. Muitos indígenas passaram esta noite tentando apagar, em vão, o fogo que segue veloz a favor do vento. De saber que todo esse fogo é criminoso. Por detrás dele, estão madeireiros, grileiros de terras, garimpeiros e principalmente o agronegócio com o seu terrível veneno e suas armas de morte. Nesta semana, um de seus representantes afirmou, que os Sem Terra são invasores de terras. Estes do veneno, não só invadem terras, mas também semearam fogo nas áreas desmatadas para transformar o espaço em área de pasto ou plantio de soja.
Já o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), recebeu o honroso título de maior produtor de arroz orgânico da América Latina. E o que é melhor, está vendendo, nos seus armazéns, este arroz orgânico ao preço justo. Ao contrario dos arrozeiros brasileiros, que preferiram vender o seu arroz, para o mercado externo a um preço melhor, não dando prioridade parar o mercado interno brasileiro. Um saco de 5 quilos de arroz está saindo ao preço de R$35,00 nos supermercados.
Ainda falando sobre Gramsci, quando este se refere à religião em geral, ele a retrata essencialmente como uma manifestação que nasce das penúrias humanas, da impotência do homem diante do desconhecido e daquilo que ele chama de “potências superiores”. Seguindo nesta mesma linha de seu raciocínio, ele vai nos dizer que o ser humano imagina “uma razão suprema” e procura, na esfera do sobrenatural, respostas que ainda não consegue encontrar na ciência e na história. Esta é uma critica pertinente do autor, principalmente se olharmos o que acontece de forma mágica que as pessoas se relacionam com Deus, como Aquele que resolve tudo, mesmo diante das nossas omissões e indiferenças frente a dor e sofrimento do outro.