Em uma sociedade contemporênea marcada pelo extridente sentimeto do relativismo se faz necessário perguntarmos se a fé é algo maduro e verdadeiro ou atrasado na vida das pessoas “modernas”? Para essa resposta recorro ao renomado teologo Josph Ratzinger, e em duas de suas variaveis obras nas qual considero como sendo de basilar fundamento para o tema que aqui discorrerei. É certo que na sociedade contemporãnea a preocupação maior se dá por a fé muitas vezes, ser apresentada como algo do passado, como bem salienta o consagrado teologo em seu celebre livro Introdução ao Cristianismo:
O que dificulta a situação atual é o novo abismo entre o “outrora” e o “hoje” que se ajunta entre o “visível” e o “invisível.” O paradoxo fundamental inerente à fé em si é aprofundado pelo fato de a fé se apresentar na roupagem do passado, parecendo até identificar-se com o passado, ou seja, com as formas de vida e de existência de outrora. (RATZINGER, 2005, p.40)
Muito da problemática em relação da fé com a sociedade moderna se dá pelo problema que a fé é vista como algo tradicional, sendo assim contrário ao progressismo, aos avanços no campo da ciência e no campo tecnológico. “Tradição é aquilo que já não serve e que está preso ao passado; o progresso, pelo contrário,” (RATZINGER, 2005, p.41) através deste pensamento uma fé que é transmitida através da tradição pode ser vista como sendo algo do passado e não como algo que pode se estar presente na mentalidade de uma pessoa moderna.
Isso significa que o escândalo primário da fé, ou seja, a distância entre o visível e o invisível, entre Deus e não Deus, ficou encoberto e bloqueado pelo escândalo secundário do outrora e do hoje, isto é, pela antítese entre tradição e progresso, pelo compromisso com o passado de que parece vim acompanhado pela fé. (RATZINGER, 2005, p.41).
Estes pontos que aqui pontuamos trazidas com baseamento em Ratzinger representam em grande molde a realidade em nosso tempo, e se implica profundamente uma divisão de cunho modernista acerca da fé com um certo viés ideológicos. Também, se tem a problemática que podemos pensar que só capazes de apenas crer naquilo que vemos e tocamos com uma certa síndrome de “São Tomé”, na sociedade atual essa síndrome prevalece em muitas esferas entre elas no campos da fé como aborda Ratzinger, “Hoje estamos de antemão inclinados a considerar realidade propriamente dita apenas aquilo que temos diante de nós e que podemos tocar e comprovar” (RATZINGER, 2005, p.44). Joseph, faz-nos uma pergunta pertinente acerca disto, “Não seria o caso de perguntar com mais cuidado o que vem a ser essa realidade de fato? Será somente aquilo que é comprovado e comprovável?” (RATZINGER, 2005, p.44). De maneira alguma o homem moderno precisa voltar para trás virando as costas para a modernidade, para os avanços tecnológicos e científicos por conta da fé, no nosso dia fazemos usos dos mesmos e precisamos deles, “Devemos aceitar muitíssimas coisas – a maioria delas – confiando na ciência, e ainda mais na medida em que essa confiança parece vir confirmada pela experiência comum.” (RATZINGER, 2019, p.17) como bem é pontuado na sua obra Olhar para Cristo. Se faz portanto necessário por parte do homem moderno um acolhimento a fé, essa fé é chamada por Joseph como “Fé cotidiana,” ela é distinguida por ele através de dois aspectos:
Num primeiro momento, ela vem revestida de um caráter de insuficiência, de provisoriedade; não passa de um primeiro degrau do saber e deve ser superada tanto quanto possível. No entanto, há junto desse aspecto algo mais: uma fé assim é confiança mútua, participação comum na tentativa de compreender e dominar o mundo. Esse aspecto é essencial para a formação da vida humana. Não pode haver sociedade sem confiança. (RATZINGER, 2019, p.19).
Ratzinger, ao fazer isso baseia-se em São Tomás de Aquino, apesar de terem sido ditas em outro contexto, também são legitimas aqui: “A incredulidade é essencialmente incompatível com o gênero humano” (RATZINGER, 2019, p.19). Portanto, não há como apesar de toda modernidade vigente o homem ser alguém literalmente incrédulo. A partir desta perspectiva sobre a fé na vida do homem moderno, Ratzinger, elenca três pontos que são a estrutura do ato desta fé.
Essa fé sempre se refere a alguém que conhece alguma coisa a fundo. Pressupõem um conhecimento verdadeiro e específico das pessoas qualificadas e críveis. A isso acrescenta, em segundo lugar a confiança de “muitos” que, em seu uso cotidiano das coisas, confiam na solidez do saber em que elas se baseiam. Por fim, como terceiro elemento, podemos apontar certa verificação do saber na experiência cotidiana. Embora eu não seja capaz de demonstrar como funciona uma corrente elétrica, o funcionamento diário dos meus equipamentos constitui uma prova em si, fazendo com que eu, embora não seja um dos que sabem, não aja com uma fé pura e totalmente carente de confirmação. (RATZINGER, 2019, p.20).
Por isso, ante a face do enigmático mundo moderno com sua filosofia, ciência, cultura e tecnologia que nos apresenta, o caminho para superar as divisões e outros males proposto por Ratzinger é da interação entre o moderno e a fé. Se faz de suma importância essa proximidade e este caminhar junto, para que assim se construa um saudável e harmoniosa convivência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo. Trad. Alfred J. Keller. São Paulo: Loyola, 2005. 268p.
RATZINGER, Joseph. Olhar para Cristo. Trad. Kristina Michahelles. São Paulo: Quadrante, 2019. 125p.
Diego Balduino Costa é seminarista da Diocese de Porto Nacional, Tocantins. Cursou filosofia no instituto Maria Mater Ecclesiae, em Itapecerica da Serra, São Paulo. Obteve o título de bacharel em filosofia pelo Ateneu Pontifício Regina Apostolorum de Roma. Atualmente cursa Teologia no Instituto São José em Mariana, Minas Gerais.