Usar corretamente os bens e os meios que estão sob nossa responsabilidade

Reflexão litúrgica: sexta-feira, 10/11/23
31ª Semana do Tempo Comum
Memória de são Leão Magno, Papa e doutor da Igreja

 

Na Liturgia desta sexta-feira, 31ª Semana do Tempo Comum, na 1a Leitura (Rm 15,14-21), vemos que o apóstolo Paulo preocupado em difundir a mensagem evangélica, sempre se esforçou por anunciar o Cristo onde nunca fora anunciado. Ele pode justamente gloriar-se de seu trabalho apostólico. Porque Cristo é que agiu e age através dele, dando maravilhosa fecundidade ao seu ministério. Paulo justifica sua intervenção nesta carta, apelando para sua vocação de apóstolo dos gentios, ele fala de seu ministério mais do que sacerdócio, e sim de presbítero, pois não se realiza somente sobre o altar dentro de um templo, mas por meio da evangelização, que reúne as pessoas na fé e na solidariedade com o mistério da morte e ressurreição de Cristo.

No Evangelho (Lc 16,1-8), vemos que Jesus elogia o comportamento do administrador, mas não aprova a atitude fraudulenta (adquiria bens em prejuízo dos outros, acumulava com injustiça). Não propõe como modelo tudo o que o administrador da parábola fazia, mas ressalta a sua astúcia em garantir o seu futuro, sua previdência, pois, em situação de risco de perder o cargo, usa de esperteza, inteligência e criatividade, previne-se, não desanima, isto é, muda a estratégia quanto ao futuro. Na época, o administrador não era remunerado, ganhava comissão; então, prevendo situação adversa, priva-se do benefício em prol de fazer amigos.

Jesus alerta que falta essa sabedoria aos ‘filhos da luz’ que não tomam consciência diante dos graves problemas que colocam em risco o futuro e a salvação. A lição que fica é que devemos dar preferência àquilo que combina com o projeto de Deus, o uso correto dos bens e dos meios. Isto é, a gestão correta da própria vida, os bens são dons tanto na origem, quanto na destinação. “A vida não é dada a ninguém em propriedade, mas a todos em administração” (Sêneca). Se formos administradores dos bens deste mundo, não devemos nos apegar a eles de forma absoluta; mesmo que eles decorram do direito natural, não devem impedir o bem maior que é a salvação eterna. “A propriedade faz parte da natureza do homem e da natureza das coisas. Como o trabalho, ela encerra um mistério; é a projeção da personalidade humana sobre as coisas. A pessoa tende à propriedade por um impulso instintivo, do mesmo modo que nossa natureza animal tende ao alimento. O apetite da propriedade é tão natural à nossa espécie como a fome e a sede; apenas é de notar que estes são apetites da nossa natureza inferior, ao passo que aquele procede da nossa natureza superior. Todo homem tem alma de proprietário, mesmo os que se julgam inimigos da propriedade. É isto que se entende quando se afirma que a propriedade decorre do direito natural” (R. G. Renard, apud Curso de Doutrina Social da Igreja, Escola Mater Ecclesiaee, p. 136-137).

A Bíblia nos apresenta numerosos exemplos de pessoas que, em meio às riquezas, se tornaram amigos de Deus. São Basílio de Cesaréia nos aconselha a ser administradores espertos dos bens e não proprietários. Porque, diz ele: “Ao faminto pertence o pão que conservamos; aos nus, o manto que mantemos guardado; ao descalço, os sapatos que estão se estragando em nossa casa; e ao necessitado, o dinheiro que escondemos” (Homilia sobre São Lucas – 12,16-21).

 Jesus não condena a riqueza e sim o mau uso que dela se faz, pois, muita gente serve ao dinheiro e não se serve do dinheiro para servir a Deus e aos irmãos: para ganhar mais dinheiro, há quem trabalha doze ou quinze horas por dia, num ritmo de escravo, e esquece-se de Deus, da família, dos amigos e até da própria saúde. Por dinheiro, há quem venda a sua dignidade, a sua consciência e renuncie a princípios em que acredita. Por dinheiro, há quem não tem escrúpulos em sacrificar a vida ou o nome dos seus irmãos. Por dinheiro, há quem é injusto, explora os operários, se recusa a pagar um salário justo etc. Por dinheiro, muita gente corrompe e outros se deixam corromper.

Quanto a nós, peregrinos neste mundo, não serviremos ao dinheiro, mas o usaremos para servir o único Senhor, pois sabemos que “onde estiver nosso tesouro, lá estará também nosso coração”.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.