Vaidade das vaidades

Hoje estou tentando entrar num acordo com o meu computador. Estou tentando fazê-lo trabalhar. Não está fácil! Depois de sucessivas quedas de energia por aqui, ele resolveu dar um tempo para si. Também, após quase dez anos de “trabalhos forçados”, chega uma hora que busca o merecido descanso. Está a me dizer que chegou a hora da sua aposentadoria. Já trabalhou muito! Eu é que fico tentando convencê-lo a ficar mais um tempinho por aqui.

Ainda estou de ressaca moral, por conta do resultado das eleições. A meu ver, precisamos tirar algumas lições deste ultimo pleito. A primeira delas é com relação ao número de candidatos a prefeito. Desta vez, batemos o recorde. Seis candidatos é um numero bastante excessivo, para um colégio eleitoral tão pequeno como este de São Félix do Araguaia. Cada qual deles, olhando para o seu próprio umbigo. Alguns destes candidatos, sem nenhuma chance de se chegar vitorioso ao final do pleito.

“Vanitas vanitatum et omnia Vanitas” (Vaidade das vaidades, tudo é vaidade), vai nos dizer o Livro do Eclesiastes. (Ecle 1, 2) Esta frase tão significativa, que é a síntese de todo o Livro, para nos dizer que, examinando a situação em que o povo vive, a conclusão é que tudo é frágil e passageiro. Nada é para sempre, mas um dia terá o seu fim. Uma clara demonstração que devemos nos apegar as coisas que nos dão mais sustentação.

Tendo como base os ensinamentos deste Livro do Antigo Testamento, que faz parte da coletânea dos livros Sapienciais (Provérbios, Jó, Eclesiastes, Eclesiástico e Sabedoria), devemos estar dispostos a aprender com a com a sabedoria e a espiritualidade do povo de Israel. Traduzindo parta a realidade do contexto destas ultimas eleições, precisamos deixar a vaidade de lado, e pensar mais no coletivo. Não olhar apenas para os nossos umbigos, mas num projeto político que tenha como foco, não os interesses pessoais, mas os da população como um todo.

Não foi isso que vimos, a partir do perfil de cada um dos candidatos em questão. Cada qual, pensando exclusivamente em si, e nos seus interesses pessoais em jogo. Temos até uma fala que costumamos dizer de maneira bastante equivocada: “Cada um pra si e Deus para todos.” O equivoco está em que, quando cada um é para si mesmo, Deus, nesta hora não é para ninguém. Ou nos juntamos e fazemos valer os nossos direitos, pensando no coletivo das pessoas, ou não iremos a lugar nenhum. Talvez aí esteja o nosso maior erro, quando colocamos os nossos interesses pessoais acima dos interesses coletivos.

A segunda coisa importante que precisamos aprender é que muitos de nós vemos a política como uma coisa “suja”. Precisamos, urgentemente, mudar a nossa concepção do que vem a ser “política”. Neste sentido, o filósofo grego Aristóteles, nos ajuda a clarear a ideia do que vem a ser política. Segundo ele, a política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana. Para ele, a política é a arte de representar e bem governar. Numa visão bem mais abrangente ele vai nos dizer que a política está relacionada a ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na Cidade-Estado, (a Pólis Grega) A política propriamente dita se preocupa com a felicidade coletiva. Ou seja, a Política é tudo o que se relaciona à busca de ações que visem o bem estar tanto individual como coletivo.

Talvez, se fossemos imbuídos de um espírito mais altruísta, e uma visão mais clara da política, tivéssemos outro comportamento, frente ao processo eleitoral, de escolha dos nossos representantes. Sem falar que nestes momentos de nossa vivência democrática, muitos dos candidatos se aproveitam para arranjar um “jeitinho”, para resolver a sua vida, alcançando um salário maior, através destra “boquinha” junto aos órgãos públicos. Fico indignado só de saber que um professor tem um salário menor que um parlamentar.

“Os políticos são todos iguais.” Esta é também uma das frases que comumente ouvimos. O que não é verdade! Há políticos e há políticos. Lembrando que Política se faz tendo a opção de se escolher um dos lados para se posicionar. Ou se faz a política dos grandes e poderosos, ou se faz a opção para estar do lado dos pequenos, dos pobres e excluídos de nossa sociedade. Existe, portanto, a política de uns e a política de outros. Ou se está do lado de lá, ou está do lado de cá. O grande problema nosso que os do lado de cá, votam quase sempre nos candidatos que estão do lado de lá, que nem sempre defenderão os interesses destes.