A semana só está começando. Mais uma semana pela frente. Uma segunda-feira preguiçosa, com os termômetros chegando à casa dos 40 graus. Muito calor e fumaça ainda, que nos deixa com a sensação térmica de que está mais quente do que aquilo que apontam os termômetros. O jeito é hidratar o máximo possível e não se expor tanto ao sol.
Os indígenas Iny (Karajá), da aldeia de Fontoura estão de luto. Perdeu uma de suas principais lideranças para a Covid-19. Joaquim, pai do ex-cacique José Hani, perdeu a luta contra esta terrível doença e nos deixou neste final de semana, depois de vários dias internado. Era funcionário aposentado da FUNAI, onde prestou um grande serviço à causa indígena. Um homem sábio que deixou o povo Iny muito triste, uma vez que era muito querido entre eles. Mais uma biblioteca foi queimada com a sua partida.
No dia de hoje, a 149 anos atrás, era assinada pela Princesa Isabel, a famigerada Lei do Ventre Livre (LEI nº 2.040, de 28 de setembro de 1871). Segundo esta lei eram considerados livres todos os filhos de mulheres escravas nascidos a partir de então. Uma das leis mais estranhas que já foram promulgadas, pois como poderia ficar livre a criança que tem a sua mãe prisioneira do regime escravagista? O sistema escravagista manchou a nossa história. De saber que o Brasil foi um dos últimos países do mundo a acabar com tal sistema, cinqüenta anos depois que os demais países, puseram fim a esta desumanidade.
Desde o inicio da pandemia tenho usado deste espaço de comunicação para divulgar algumas poucas ideias. São conversas interiores, que vou transmitindo, através de meus rabiscos. Nada muito bem elaborado de cunho acadêmico/científico, como alguns tem me cobrado, através das suas críticas. Trata-se, antes de tudo, de algumas elucubrações, fruto das minhas reflexões, frente ao contexto que ora vivenciamos. Nada muito pretensioso, dadas também as minhas limitações. São conversas ao pé de orelha de quem quer apenas ajudar as pessoas a refletir dentro do contexto atual.
Ainda falando sobre o contexto de destruição da nossa querida Amazônia, me vem a mente uma das frases celebres do escritor renascentista francês François Rabelais que dizia: “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram quando podiam.” É exatamente desta forma que vemos a atuação do atual governo brasileiro, frente a este processo de destruição. E o pior de tudo é que eles falam como se estivessem empenhados em combater tal destruição. São centenas de milhares de árvores, cortadas criminosamente pelas motosserras e, no espaço do desmatamento foi ateado o fogo, que arrasou tudo à sua frente, até chegar as aldeias indígenas. Confesso que nunca vi tanto fogo em minha vida desde que aqui cheguei, no início da década de 90.
Estamos vivendo uma crise nevrálgica de valores. As pessoas estão perdendo o senso dos reais valores e princípios. Estamos sem entender muitas das coisas que se passam no meio de nós. Em meio a um grande genocídio, com mais de 140 mil mortos, agimos como se nada estivesse acontecendo. Isso não pode ser normal. Pessoas perdendo a vida, famílias inteiras enlutadas, pobres passando fome e os nossos governantes não demonstram nenhuma preocupação. Ainda assim, são apoiados e seguidos por uma horda de loucos. Aonde iremos chegar, não sabemos, pois cada dia nos reserva uma irresponsável surpresa.
Mas não podemos entregar os pontos. Precisamos continuar acreditando que tudo isso, um dia terá o seu fim. Só se espera que não demore tanto tempo. Que o amanhecer de uma nova realidade esteja batendo à nossa porta e aí poderemos cantar o cântico da vitória da vida sobre os horrores da morte. Que esta crise não nos impeça de sonhar. Neste sentido me vem a mente uma frase dita por Pedro: “Estar em crise não é necessariamente uma desgraça. A crise é a febre do espírito. Onde há febre há vida. Os mortos não tem febre.” (Pedro Casaldáliga)