Vem, Senhor e não tardes!

Primeiro Domingo do Advento. Enfim, o dia tão esperado chegou! Um novo horizonte se abre à nossa frente. Tempo de espera do esperançar vigilante e preparados: “O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”. (Mc 13,37). Tempo de acordar para as novas perspectivas que estão por vir. Tempo de não ficarmos sentados aguardando, mas de irmos ao encontro da realidade nova que queremos ser e fazer, com Ele. Não celebraremos o Natal, porque Ele já veio. Este é o tempo em que vamos celebrar o mistério salvífico de Deus, personificados no nascimento, vida, paixão, morte e ressurreição do Deus da vida que se encarnou entre nós na pessoa do Filho.

A palavra “advento” faz parte da etimologia latina, no termo “adventus”, ou “Adventum”, que quer significar chegada, aproximação, vinda. Para a vida cristã, o Advento é um tempo antes do Natal, que nos prepara para o natal do Filho de Deus, a segunda maior festa cristã. A Tradição da Igreja diz que a vivência do Advento entre os cristãos começou por volta dos séculos IV e VII em vários lugares do mundo. Após a Reforma Liturgia, ocorrida com a Constituição “Sacrosanctum Concilium”, aprovada em 4 de dezembro de 1963, o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo assim a tradição das 4 semanas, preservando a dimensão escatológica deste tempo.

Teologicamente, o Advento recorda-nos a dimensão histórica da salvação, evidenciada na dimensão escatológica do mistério cristão, inserindo-nos no caráter missionário da vinda de Cristo. Neste período, fazemos uma caminhada com Jesus, aprofundada através dos textos litúrgicos desse tempo, inserindo na história da humanidade o mistério da vinda do Senhor. Uma caminhada cheia de esperança e fé em Jesus, que se encarna e se torna presença salvífica de Deus na história, confirmando a promessa e a aliança feita ao povo de Israel. Deus que, ao se fazer carne, plenifica o tempo, como Paulo testemunhou em uma de suas cartas: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei”. (Gl 4,4)

A encarnação do Verbo é o Mistério da presença viva de Deus na caminhada de seu povo. Deus cumpre a sua promessa e se revela total e plenamente na pessoa de seu Filho. O Advento é este tempo forte do Deus da revelação: “Eu sou o Alfa e o Ômega (o Princípio e o Fim), diz o Senhor Deus, Aquele-que-é, que-era e que-vem, o Deus Todo-poderoso”, (Ap 1,8), que está sempre realizando a salvação mas cuja consumação se cumprirá no “dia do Senhor” (Kairós), no final dos tempos. A dimensão missionária do Advento se manifesta na Igreja pelo anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração aberto das pessoas, até a manifestação gloriosa de Cristo.

Jesus é a “Cristificação do Universo”, dir-nos-ia o padre e teólogo jesuíta francês Teilhard de Chardin (1881-1955). Jesus é o centro do projeto e ação libertadora de Deus. A glória, a misericórdia, o amor infinito e gratuito, o perdão, lhe pertencem, porque: Ele é a “Testemunha fiel” (diria nosso bispo Pedro), que revelou e realizou o projeto do Pai até o fim, dando a vida por amor às pessoas; Ele é o Primeiro a ressuscitar dos mortos, vencendo assim a morte e o pecado, inaugurando o início de uma nova humanidade; Ele é o Rei dos reis da terra, pois está acima de todos os poderosos e reúne todas as pessoas, para fazer deles e delas um Reino, onde todos e todas são sacerdotes e sacerdotisas da aliança com Deus Pai.

A espiritualidade do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais da vida cristã, como a alegria expectante do esperançar e o estado de vigilância permanente de quem vai em busca da esperança que se faz ato de transformação. Uma espiritualidade própria e específica, que nos desinstala para que possamos assumir uma atitude de permanente esperança, desapego e pobreza na busca de nossa conversão ao projeto do Reino revelado por Jesus. O reino de Deus é concretude no aqui e agora. Não estamos diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade que podemos sentir, apalpar e viver. A esperança de Deus bate em cada coração que se abre para esta realidade. A experiência de fé sem esta perspectiva é não deixar-nos ser modelados pelas mãos de Deus. A fé consciente, transformadora e libertária, mantem a esperança já realizada em Jesus de Nazaré, mas que só se consumará definitivamente na Parusia do Senhor. Por isso, o nosso clamor próprio deste período: Maranatha! Vem, Senhor Jesus, e não tardes!


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.