Vida em primeiro lugar!

Sete de setembro! Dia especial em que a Nação brasileira comemora o Dia da “Independência do Brasil”. Segundo a história oficial, escrita por aqueles que dominavam o cenário político da época, a independência do Brasil aconteceu no ano de 1822, tendo como grande marco referencial o grito da independência que foi proclamado por Pedro de Alcântara (D. Pedro I durante o Primeiro Reinado), às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, no dia 7 de setembro de 1822. Ainda segundo os escritos desta história oficial, com a independência do Brasil declarada, o país transformou-se em uma monarquia com a coroação de D. Pedro I.

Passamos a ser um país “independente” de Portugal. Ledo engano! O que poucos de nós brasileiros sabemos é que a tal independência nos foi outorgada após o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas como indenização aos portugueses. Segundo este acordo, o governo brasileiro deveria pagar como indenização para que Portugal aceitasse a independência do Brasil. Sem contar que os portugueses já haviam saqueado parte de nossas riquezas, distribuído inclusive o território (Capitanias hereditárias – 1534) à alguns apaniguados patrícios. Começa ali, portanto, o histórico de nossa dívida externa, uma vez que este dinheiro veio da Inglaterra.

Independência se conquista de pé e não de joelhos. O preço a ser pago por ela, é a luta cidadã constante para fazer valer os direitos de um povo. Independência se conquista com educação que leva as pessoas a construírem seus próprios pensamentos e não como as escolas faziam conosco no dia da Independência do Brasil, colocando-nos batendo o pé no chão, idiotizando-nos, sem saber o porquê daquela ação. Desde pequeno, eu ficava recoltado, debaixo daquele sol escaldante, mostrando para as pessoas que nos assistiam, que estávamos enaltecendo a Independência do brasil, batendo o pé no chão. Alienação ali tinha nome e sobrenome.

Independência que ainda não conquistamos e nos custa muito caro. A Casa Grande ainda vive entre nós de forma institucionalizada, fazendo da grande nação que somos, a preservação do escravagismo de um racismo cruel e desumano. Uma das nações mais desiguais do mundo, onde os direitos seguem sendo aviltados por aqueles que nos dominam e nos fazem ainda dependentes. Independência se conquista com direitos, também conquistados. “Direitos Humanos não se pede de joelhos, exige-se de pé”, afirmava Dom Tomás de Balduino, um dos co-fundadores, junto com o nosso bispo Pedro, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em junho de 1975. Quem não luta por seus direitos não é merecedor deles.

Dia da independência. Uma data histórica. Falar de independência é falar de justiça, é falar de paz, é falar de direitos. Um dos grandes profetas que teria vivido entre os anos de 765 a.C. e 681 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, nos alertava: “O fruto da justiça será a paz. De fato, o trabalho da justiça resultará em tranquilidade e segurança permanentes”. (Is 32,17) Na sua visão, a perspectiva dos filhos de Deus era o vislumbrar da esperança de um mundo novo onde reine a justiça e o direito que geram paz e prosperidade. Independência com justiça e liberdade, pois a paz é, antes de tudo, obra da justiça. Ela supõe e exige a instauração de uma ordem justa, na qual as pessoas possam realizar-se como seres humanos, sua dignidade ser respeitada, suas legítimas aspirações serem satisfeitas, seu acesso à verdade reconhecido, sua liberdade pessoal garantida.

“Se quer paz, prepare-se para a guerra”, dirão os arautos do belicismo, numa alusão a uma das frases atribuídas ao autor romano do quarto ou quinto século, Flávio Vegécio, que fez uso de um provérbio em latim “Si vis pacem, para bellum”. Uma esdrúxula concepção que compreende a paz como fruto da força bruta e da imposição do mais forte. Já para a concepção cristã, onde não há justiça, dificilmente haverá a tão sonhada e desejada paz. É por este motivo que nós das pastorais sociais, no dia 7 de setembro, celebramos o Dia dos Excluídos. Tem sido assim desde o ano de 1995, com as manifestações populares, com o objetivo de lutar pelos direitos das pessoas que sofrem com as desigualdades sociais no Brasil. Estamos no 27º Grito dos Excluídos. Neste ano o tema é: “Vida em primeiro lugar!

Independência é vida! Vida em toda a sua plenitude. Este é o grito abafado que sai das nossas gargantas, nestes tempos tão difíceis. Uns querem a guerra, os fuzis, a estupidez e a intransigência. Nós queremos a paz, a justiça, a fraternidade. Um mundo que seja a casa para todos: comida para os que tem fome; trabalho e emprego para os desempregados. Sonhamos com a utopia da independência que não seja apenas um grito mal dado, mas o lugar onde todos os povos e nações sejam respeitados na sua dignidade e direitos. Sobretudo dos mais fracos. Como o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), possamos repetir para nós mesmos: “Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.”

 

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.