Vida orante

Décimo sétimo domingo do tempo comum. Última semana do mês de julho. Um domingo orante em que os afazeres do corre corre da vida diária, às vezes, nos tira a oportunidade de agradecer ao Criador, o dom maior da vida que nos é dada na gratuidade. Vida que se faz plenitude em Deus na sua essência de amorosidade. “Eu vim para que todos tenham vida e vida plenamente”. (Jo 10,10) Deus que toma a iniciativa em nos fazer plenos de vida.

Somos seres de luzes. Nascemos para brilhar na amorosidade de Deus. O amor, mais do que uma palavra desgastada e manipulada pelo “deus mercado”, é a essência do nosso ser neste mundo, sob a perspectiva de Deus. Viver fora desta dimensão é se conformar com a lógica da estrutura perversa da sociedade da desigualdade, onde uns poucos podem mais que outros.

A grande revelação que Jesus veio nos trazer foi a face de um Deus de extrema compaixão: “quero a misericórdia e não o sacrifício”. (MT 9,13) Um Deus que sobra em ternura e misericórdia e quer que todos e todas sejamos assim. Sermos misericordiosos para conosco mesmos e também para com o outro. Mais do que evidenciar o drama do pecado, devemos ressaltar a Graça de Deus que está presente em nós: “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. (Ro 5,20)

A vida orante nos faz em sintonia com Deus. Rezar é estabelecer um diálogo franco e aberto com Deus. Neste sentido, precisamos encontrar momentos da nossa vida para estar a sós com Deus. Este é um exercício que vamos aprendendo a fazer na nossa história de vida. Uma disciplina para a qual vamos nos educando, submetendo a nossa vontade à uma espiritualidade engajada nas lutas humanas, motivada por uma fé adulta, comprometida com as mesmas causas de Jesus. Uma fé revolucionária como a fé de Jesus de Nazaré.

Jesus histórico era um ser de oração. Embora sendo a revelação plena de Deus como Verbo encarnado, Ele tinha os seus momentos de sintonia orante com o Pai, como o evangelista Lucas nos mostra na liturgia deste domingo: “Jesus estava rezando num certo lugar”. (Lc 11,1) Oração na ação permanente, como forma de edificação do Reino de Deus. Não uma oração de palavras vazias desconexas e alienadas, mas comprometida com a vida dos pequenos. Oração que leva à ação libertadora sob a perspectiva do Reino.

Este é o desafio maior do ser cristão para os dias de hoje: sermos pessoas de oração. Pessoas orantes. Como os seguidores e as seguidoras de Jesus, desejavam rezar como o Mestre, Jesus lhes ensina a oração do Pai Nosso. A oração mais completa que temos e que nos coloca no mesmo plano de igualdade. Esta oração nos coloca num plano de intimidade filial com Deus que é Pai e Mãe de todos nós. Nela nós apresentamos à Deus as necessidades básicas para o Bem Viver neste mundo de forma feliz e igual. Se o Pai é nosso, o pão também é. Um Pai que é nosso e que não tolera a desigualdade, a omissão e a indiferença. Pai nosso dos pobres marginalizados.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.