Décimo nono domingo do tempo comum. Dia do Senhor. Dia de reunir a comunidade para, festivamente, celebrar o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Nazareno. A experiência de cruz rendeu-lhe o fruto sagrado da Ressurreição. O Filho de Deus está vivo no meio de nós. A morte não triunfou, pois a vida venceu a morte. Deus agindo na história humana possibilitando-nos com Ele ressurgir. Humanizados que somos, trazemos em nós a experiência profunda da divinização do Verbo, conduzindo-nos à transcendência maior em Deus, Pai e Mãe de todos nós. O Divino se fazendo em nossa realidade Humana. Humanos divinizados.
Neste domingo, tanto as mulheres resilientes, quanto a feminilidade que há em cada um de nós masculinizados, fazemos a memória com alguns Estados da Federação, do Dia Estadual de comemoração à Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006. Trata-se da Lei que foi denominada Lei Maria da Penha, em homenagem à luta de vinte anos dessa corajosa mulher, que foi vítima de duas brutais tentativas de assassinato, trazendo em si, graves sequelas, até conseguir a condenação de seu marido agressor. Esta lei surgiu com o objetivo de estipular a punição adequada e coibir atos de violência doméstica contra a mulher. Na terra do feminicídio, uma lei que veio favorecer a luta das mulheres por sua dignidade.
Um domingo que amanheceu silenciosamente no meu quintal. Apenas um ou outro pássaro se ouvia com o seu canto, prenunciando o novo dia. Rezei como se estivesse num mosteiro, tal o silêncio que reinava. As folhas, bailando sobre o vento, dissipando as trevas da noite e fazendo acontecer o dia de domingo. Este ambiente propício trouxe-me à mente uma das canções do padre Zezinho “Porque Deus me chamou”, que na sua primeira estrofe ele assim diz: “Esta manhã, mais uma vez. Volto a rezar e a pedir tua luz Sei que eu não sei continuar. Sem escutar tua voz que me diz. Que o Pai me ama, que Ele me chama. Pra me fazer feliz”.
https://www.letras.mus.br/padre-zezinho/1932794/
Nestes dias tenho aproveitado para reler um dos clássicos da literatura da Teologia da Libertação: “Na procura do Reino”. Um dos escritos de nosso bispo Pedro, em formato de Antologia de textos, publicado no ano de 1988, por ocasião de seus 60 anos de vida e vinte da caminhada desta Igreja, povo de Deus, tecida pelas mãos, mente e coração deste nosso pastor. Antes que se falasse de “Igreja em Saída”, esta já era uma Igreja preocupada com a caminhada sofrida do povo deste Araguaia. Como na contra capa está escrito: “Sob o signo dos 500 anos do mal chamado ‘descobrimento’ e da ambígua ‘evangelização’”. Não era à toa que Pedro sempre insistisse conosco: “Descolonizar e desevangelizar”, esta é a nossa meta.
Vivemos noutros tempos de Igreja. Tempos estes em que a grande parte das lideranças religiosas, estão preocupadas em “evangelizar as pessoas”: “pregar o Evangelho”. Quando na verdade, elas não conseguem evangelizar a si mesmas. Sim, porque o maior desafio enquanto seguidores e seguidoras de Jesus, está em anunciar para nós mesmos aquilo que Jesus nos ensinou. Este processo começa primeiro por nós, na medida em que abraçamos o Projeto Messiânico de Jesus e o adotamos como projeto de vida para nós mesmos. Desta forma, só conseguiremos chegar ao outro, com uma proposta de evangelização, na medida em que o Projeto do Reino está acontecendo dentro de nós. Ser evangelizado para depois evangelizar. Ser aquilo que anuncia.
Neste sentido, a liturgia proposta para este 19º Domingo do tempo comum, ano C, anunciada pelo Evangelho de Lucas, vem corroborar esta ideia. A temática central do texto de hoje é exatamente a proposta do Reino que Jesus veio trazer até nós: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. (Lc 12, 32) Reino como dádiva. Reino como construção. Consequentemente, a atitude do discipulado de Jesus deverá ser aquela de permanente vigilância. Vigilantes na prontidão. Não esperar que as coisas aconteçam, como vindas do céu apenas, mas a de colocar na esfera do fazer acontecer através das nossas ações. Na procura do Reino sempre. Temos plenas condições de construir o Reino, através de uma participação efetiva e afetiva até porque, como foi concluído do texto do evangelho de hoje: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12, 48) O Reino de Deus está entre nós como nos atesta o evangelista Lucas: “Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou: ‘está ali’, porque o Reino de Deus está no meio de vocês.” (Lc 17,21) Com Geraldo Vandré, possamos então dizer: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Vigilância e prontidão, sempre!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.