A população mundial está de luto. Ultrapassamos nesta última segunda-feira (28) a marca de 1 milhão de vidas ceifadas, pelo novo coronavírus, segundo a Universidade Johns Hopkins dos Estados Unidos. Infelizmente, o Brasil figura na lista dos países com os maiores números de óbitos: 142.058 até a presente data. São ao todo 4.745.464 de casos confirmados. O mais triste disto tudo, é saber que, enquanto as primeiras 500 mil mortes foram registradas ao longo de seis meses, as últimas 500 mil, foram registradas em apenas 3 meses. Mas a população se comporta como se a pandemia já não existisse mais. Irresponsabilidade a toda prova.
Um dado que também nos entristece é saber que o avanço das mortes do novo coronavírus entre os povos indígenas do Brasil já é maior que os casos de mortes da população inteira de seis países da América do Sul. Segundo os dados coletados ainda em maio, pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em consonância com Organização Mundial da Saúde (OMS), somando os casos registrados no Uruguai (19), Paraguai. A morte dos povos originários está intimamente relacionada com a omissão criminosa do governo Federal, diante da pandemia da Covid-19 no Brasil, que só aumenta em toda a população. Os indígenas falam em genocídio, com razão.
A pandemia segue fazendo vítimas em todo o Brasil. Infelizmente esta é uma doença que encontra com facilidade o endereço da população mais vulnerável. No rastro destas mortes todas, há também uma profunda crise moral, política e econômica. Quem está pagando esta conta, são os mais pobres, pra variar. São eles que perderam os seus empregos. São eles que perderam sua renda. São eles que estão passando fome junto aos seus.
Segundo dados do IBGE, já temos entre nós, cerca de 12,8 milhões de pessoas desempregadas. Juntando a estes, há também aqueles que vivem na informalidade. São aqueles trabalhadores que não possuem vinculo empregatício com carteira assinada, direitos trabalhistas previstos em lei, FGTS, auxílios de segurança social, como o auxílio-maternidade, auxílio-doença, dentre outros. Se trabalhar, tem renda e alimenta sua família. Se não trabalhar, passa fome. Como forma de enganá-los até arrumaram um nome sugestivo para eles: Microempreendedores Individuais (MEIs).
Em meio a estes trabalhadores informais estão também àqueles trabalhadores que exercem as suas funções por aplicativos. Também padecem do mesmo tipo de desamparo. A desregulamentação da proteção a este trabalhador deixa uma parcela cada vez maior da sociedade sem qualquer tipo de proteção. Nesta semana mesmo, um destes trabalhadores, foi atropelado numa das ruas de São Paulo. Um jovem rapaz de apenas 23 anos de idade. Sem direito algum que o amparasse, deixou uma viúva e a sua filha pequena de 2 anos de idade.
São aqueles que chamamos pelo nome de visíveis invisíveis. A cada dia que passa cresce assustadoramente o numero deles, sem que os nossos governantes tenham qualquer tipo de preocupação para com eles. Ao contrário, nestes últimos anos, com as políticas econômicas de morte, tem os levado cada vez mais a esta informalidade. São aqueles visíveis que estão nas esquinas das grandes cidades, vendendo balas, água mineral, pano de prato. Todos nós os vemos, mas fazemos de conta que eles não existem e não são seres humanos, que possuem famílias, as quais precisam sustentar. Alguns de nós até os vemos com preconceito, marginalizando-os ainda mais. São os descartados de nossa sociedade medíocre, que ainda se diz cristã, seguidora dos Deus de Jesus.
Estes visíveis invisíveis são aquelas pessoas que a Bíblia os chama de “ANAWIN”, que é uma palavra hebraica, que quer significar “os pobres de Javé”. Ou seja, os pobres de Deus. Jesus era também um Anawin. Maria e José também. O mais interessante nesta palavra hebraica, é que ela está no plural. Desta forma, os pobres são todos aqueles e aquelas que estão desprovidos/as de bens materiais, que experimentam o sofrimento e a injustiça na própria pele, por causa da sua condição de pequenez, fragilidade e dependência, vítimas da exploração. Estas pessoas são, principalmente, aquelas que depositam toda a sua confiança no Deus de Jesus de Nazaré, esperam e lutam pela sua libertação da exploração a que estão sendo submetidos. A narrativa bíblica nos diz que o nosso Deus é para todos, mas de uma maneira muito especial, é o Deus que tem uma predileção especial pelos visíveis invisíveis. Um Deus que tem uma classe pela qual está completamente voltado, diferentemente daqueles que colocam o seu “deus” acima de tudo.