Vocação e missão

Sexta feira da décima terceira semana do tempo comum. E não é que julho começou “sextando”. O dia de hoje é o 182º do Calendário Gregoriano. Mais outros 183 dias e o ano de 2022 se finda. Estamos quase na metade de nossa jornada pelas entrelinhas da história deste ano decisivo. Lembrando que o Calendário Gregoriano que seguimos, foi promulgado no ano de 1582, pelo Papa Gregório XIII (1502-1585), através da bula papal “Inter Gravíssimas”, substituindo assim o anterior, o Calendário Juliano, instituído no ano de 46 a.C., pelo então político ditador romano Júlio César (100-44 a.C.)

Há um adágio latino que nos diz: “tempora mutantur”. Traduzido para a nossa língua quer significar que: “os tempos mudam e nós com eles vamos também mudando”. Os dias passam e nos encaixamos dentro deles, vivendo a mutação que acontece ao nosso ser. Caminhamos em direção ao horizonte próximo de nossas realizações pessoais e coletivas. Cada dia com a oportunidade de dar um passo a mais na busca da realização de nossos sonhos, afinal os sonhos compõem a existência humana. O corpo humano alcança aquilo que a sua cabeça pensa. Sonhos feitos de esperança que se vai atrás, como nos dizia o filósofo grego Aristóteles (384 a.C-322 a.C.): “A esperança é o sonho do ser acordado”.

O ser acordado na perspectiva cristã, é o ser consciente de sua vocação e missão neste mundo. Acordar para a realidade que nos cerca é o desafio permanente do ser cristão. Quantos estão dormindo ao nosso redor e fazem questão de manter-se nesta condição letárgica? Como aquela pessoa evangélica, que me abordou numa das ruas de São Félix, dizendo que eu era uma pessoa “até boa”, não fosse aquele anel de tucum, que era o símbolo da Teologia da Libertação e do comunismo, segundo ela. “Até boa” foi ótimo, disse eu a ela. De nada adiantou fazer com ela um breve histórico acerca daquele “anel comunista”. Se bem que me senti honrado com o “comunista” que eu representava para ela. Comunista das boas causas, com muito orgulho!

Vocação e missão. Duas palavras que se complementam quando se tem como perspectiva o seguimento de Jesus de Nazaré. Todos somos vocacionados e cada qual possui a sua missão. A missão está enraizada na vocação que cada um assume como sua. Não são apenas os religiosos, religiosas, padres e bispos que são os únicos vocacionados. Ao nascer, já trazemos no âmago, no nosso DNA, a insígnia da vocação a qual fomos chamados. Chamamento que pressupõe também os dons que recebemos de Deus. Cada qual com o seu dom. Passar pela vida dissimuladamente, sem exercer esta vocação e missão que recebemos, é ignorar a realização do Projeto de Deus na história de nossas vidas.

Vocação e missão que coube a Jesus realizar no meio de nós: ser o Verbo encarnado em nossa realidade humana. No dia de hoje a liturgia nos dá uma pequena amostra de como Jesus realizou o chamado daqueles que o seguiram mais perto: “Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e seguiu a Jesus. (Mt 9,9). Proposta feita, resposta imediata. Entretanto, o problema maior nem foi o chamado daquele homem, mas quem era aquela homem e o que ela representava para a sociedade daquela época. Ou seja, Jesus não exige dos que chama nenhum “Atestado de Bons Antecedentes”. Chama os que quer e como quer, sem se importar com a sua “má fama”. Se eram pecadores, se eram cobradores de impostos, se eram marginalizados… Na realidade, os que chama mostra claramente a sua opção de estar junto com os marginalizados.

A atitude de Jesus diante dos marginalizados desperta a ira da classe dirigente religiosa do templo. Para eles era inadmissível que aquele que se considerava “vindo de Deus”, convivesse com aquele tipo de pessoas. Os fariseus ficaram possessos, pelo fato de Jesus não somente conviver com pecadores, mas de se sentar a mesa com eles para as refeições. Diferentemente da classe religiosa, aqueles eram os amigos de Jesus. Foi por eles e para eles que Ele veio fazer-se presente com o Pai e o Espírito Santo: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. (Mt 9, 12) Estes deserdados fizeram a experiência de caminhar com Jesus na sua vocação e missão. O coração misericordioso de Deus em Jesus, acolheu a cada um destes marginalizados.

Oxalá que também nos sintamos parte integrante destes marginalizados. Vocação e missão é a condição de cada de nos. Neste contexto, como nos relacionamos com Jesus? Estamos conscientes e preparados para a vocação e missão que recebemos? Nesta relação com Jesus, somos os seus amigos prediletos? Ou será que agimos como os fariseus, quando vemos Jesus lado a lado com os mais pobres e abandonados? O Jesus que trago dentro de mim é, de fato, o mesmo Jesus de Nazaré, ou é um Jesus qualquer das minhas convicções de fé? Estejamos preparados e cheios de misericórdia em nossa vocação e missão.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.