Volta às aulas

Precisou de uma pandemia para que os ardorosos profissionais da educação fossem valorizados. Centenas de mães estão desesperadas, sem saber o que fazer, para dar conta dos seus filhos, dentro de suas próprias casas. Algumas delas estão apelando para as escolas voltem à “normalidade”, para que assim, os filhos voltem às aulas. Algumas mães até fizeram vídeos, reconhecendo o valor dos professores, pois aguentar 35 alunos, dentro de uma sala de aula, por 4 horas diárias, não é para qualquer um, quando elas não estavam dando conta sequer de seus próprios filhos.

Estamos vivendo o pico da pandemia aqui no Estado de Mato Grosso. O sistema colapsou. Não há mais leitos, seja na rede pública, ou mesmo na rede privada. Os casos de contaminação, seguem de forma acelerada. Uma cidade do porte de São Félix do Araguaia, com pouco mais de 16 mil habitantes, contando com a zona rural, tem 17 casos confirmados da doença. Mas mesmo assim, numa atitude irresponsável da gestão publica, que resiste em cumprir as determinações da OMS, mais preocupada, talvez com a sua reeleição. Vidas dos munícipes, não importam!

Em meio a avalanche de contaminações, alguns secretários de educação estão pressionando, para que haja o retorno às aulas. De dentro de suas salas climatizadas, orientam para que as escolas se organizem para que o retorno seja efetivado, acreditando que, nas condições atuais das salas de aula, seja possível fazer o distanciamento dos alunos, protegidos por máscaras, álcool gel. Tais secretários, definitivamente, não conhecem o interior de uma sala de aula, dando mostras de que nunca pisaram numa delas, apesar de serem secretários de educação.

Voltando as aulas ou não, estamos vivendo uma situação inédita para muitos de nós. Estamos chegando ao meio do ano letivo, e a proposta de ensino a distância, para os alunos da educação básica no Brasil, não funcionou. E, em meio a esta incerteza, os alunos já estão pensando em desistir dos estudos. É o que demonstra uma pesquisa que aponta que quase 30% dos jovens disseram ter pensado em abandonar os estudos quando a pandemia passar. E quase metade daqueles que estão se preparando para o Enem admitiram a hipótese de desistir do exame. Tal pesquisa foi realizada, ouvindo cerca de 33 mil jovens, de todas as regiões do país. Este levantamento foi feito remotamente pelo Conselho Nacional de Juventude, o Conjuve, e outras instituições parceiras, no mês de maio, e atingiu a faixa etária entre 15 a 29 anos.

O que fazer? Se voltar, corre-se o risco de aumentar ainda mais os casos de contaminação de alunos e profissionais da educação, como foi o caso de alguns estados, que fizeram a experiência de voltar às atividades nas escolas e se deram mal. Houve um significativo aumento de infecção dos profissionais da educação.

Quem está certo afinal? Quem fica em casa e espera esta onda passar e não se contamina, ou quem vai para as escolas, volta ao trabalho e corre o risco de ser contaminado? Se sou pai ou mãe de aluno da rede pública ou privada, não deixaria o meu filho frequentar as aulas neste atual momento. Perderia o ano letivo, mas não voltaria. É melhor perder o ano letivo, que correr o risco de perder a própria vida. Sem falar na chamada transmissão vertical, ou seja, o aluno ou o profissional da educação, levar o Vírus para dentro da sua própria casa e infectar os seus entes mais velhos com morbidade.

Não temos governantes sérios em quem possamos nos espelhar. Muitos deles, estão à frente dos órgãos públicos, mais preocupados com a questão econômica do que com a vida das pessoas. Sem falar dos gestores públicos, que estão de olho nas eleições municipais e só pensam na sua reeleição. Nem preciso ir muito longe para fazer esta constatação. Num país em que a educação não é levada a sério pelos ocupantes dos cargos públicos atuais, o que esperar desta gente? O próprio ministro da educação passou o maior vexame, ao ser desmentido publicamente, por uma universidade de fora do país, afirmando que os dados informados na Plataforma Lattes da CNPq, dando conta de que havia feito o doutorado nesta universidade, não era verdade. Este é o nosso país. Esta é a realidade que ora estamos vivendo. Triste? Muito triste!