Domingo de Páscoa. Aleluia! O Senhor Vivo, está no meio de nós! Não se encontra mais no vale da morte. Ressuscitou para dar continuidade ao projeto escatológico de Deus. Ou seja, Jesus é o Deus que se faz presente até o fim dos tempos, construindo o Reino de Deus ao longo da História. Ele não vai somente para junto de Deus, mas se faz presente permanentemente na história humana: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mt 28,20). Esta foi a máxima anunciada por Jesus de Nazaré, quando de sua estada fisicamente entre os seus seguidores na Palestina, nos primórdios do cristianismo.
A Páscoa não é uma festa originária do Cristianismo. Na verdade, trata-se de uma festa tradicional do judaísmo, que fora incorporada pelo cristianismo, dando-lhe uma nova roupagem. Estamos falando da Pessach, a conhecida e mais importante festa judaica. Pessach que no hebraico que dizer passagem. Nela, vemos a narrativa bíblica do Êxodo contando a passagem do povo hebreu, que ao sair dos 400 anos de escravidão no Egito, adentram pelo deserto, fazendo a sua travessia por 40 anos, rumo à liberdade que os esperava na Terra Prometida, um vasto território que hoje compreenderia o Estado de Israel, Palestina, Cisjordânia, sul da Síria e sul do Líbano.
Estamos falando do povo semita, do povo de Israel. Um povo criado por Deus para a liberdade, mas que se via cativo, sofrendo os horrores de uma escravidão cruel. Orientados por Moisés, o servo enviado de Deus, eles afrontam o todo poderoso faraó e partem em busca de uma nova vida na liberdade dos filhos de Deus. Alguns estudiosos afirmam que Moisés entra com este povo deserto afora, para que durante esta travessia, alguns deles se convertessem ao Projeto de Javé, de tão acostumados com a escravidão, que não vislumbravam uma nova vida fora daquele contexto. Segundo estes mesmos estudiosos, Moisés, ao entrar para o deserto, ele sacrifica o seu próprio sonho de chegar à Terra Prometida, mas era assim necessário, para que morresse aquela geração que não se adequaria à nova vida em liberdade.
Com o assassinato de João Batista, Jesus dá inicio ao seu messianismo, voltando-se para a Galileia dos pagãos. No meio daquela ralé, ele vai dando as coordenadas de como seria a nova vida daqueles sofredores sob a perspectiva de Deus. Ensina, cura, liberta, acolhe, integra, inclui como o Messias, caminhando com aqueles que ninguém dava nada por eles. Assim foi o inicio da vida pública de Jesus, abrindo um horizonte de esperança para os pobres. Nos seus últimos três anos de vida entre eles, constitui um grupo de pessoas que o ajudaria nesta missão, principalmente depois de sua partida física do meio deles.
Homens e mulheres faziam parte do grupo destes primeiros seguidores e seguidoras chamados/as pelo Nazareno. Mesmo que a narrativa bíblica pouco traga sobre a participação das mulheres, junto dele, elas eram também protagonistas do projeto messiânico de Jesus. Só não estão mais presentes nas narrativas dos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), por causa do “filtro patriarcal” que tomou conta destas narrativas. Jesus estava rodeado destas mulheres e fazia questão que assim o fosse, ate para mostrar para aquela sociedade, que a mulher não era um ser inferior e subalterno como acontecia na relação e na prática cotidiana daquele povo.
Depois de três anos preparando os seus seguidores e seguidoras, Ele anuncia a sua partida do meio deles. Não sem antes dizer-lhes que, ao terceiro dia, ganharia vida novamente. Passa pela experiência dolorosa da morte, depois de ser condenado, torturado e escarnecido pela classe dominante. Período doloroso que afugentou todos os homens do grupo, pois o medo falou mais alto em seus corações. Menos as mulheres que, com muita coragem, não arredaram o pé da cruz. São elas também que nas primeiras horas do dia, vão ao túmulo para fazer os procedimentos funerários próprios daquela cultura. Para alegria delas, Ele não está mais ali, preso a um corpo sepulto. O Ressuscitado as presenteiam como as primeiras testemunhas oculares de sua aparição/Ressurreição.
Jesus está vivo, gritam elas a plenos pulmões. A violência, a truculência, a covardia não o venceu, como esperavam os seus verdugos. A morte não detém a última palavra. A vida triunfou, porque Deus assim o quis. Jesus é o vivente. O medo não impediu que elas anunciassem e dessem testemunho, porque Jesus libertou-as do medo, mostrando que o amor doado até à morte é sinal de vitória e alegria. É Páscoa! Não a páscoa dos coelhinhos e dos ovos coloridos de chocolate, mas a Páscoa do Verbo que se encanou na realidade humana para nunca mais sair do meio de nós. De agora em diante, Ele está presente no mistério da vida de Deus, e torna-se presente e atuante através do anúncio feito por aqueles e aquelas que nele acreditam. Novos tempos se avizinham nas relações da nova aliança: Deus é Pai, e as pessoas são filhos e filhas de Deus e irmãos e irmãs desse Jesus Ressurreto. Amém! Axé! Awire! Wedi! Aleluia!