Zumbi dos Palmares

Sexta-feira, 20 de novembro. Viva Zumbi dos Palmares! Foi neste clima festivo que rezei hoje a oração da gratuidade e da gratidão. Gratuidade pelos frutos que compartilho com os meus inquilinos de sempre. Desta vez jaca e jabuticaba para a passarada que, ecumenicamente saboreiam fartamente destas benesses. Gratidão pelo Deus que nos ama muito e nos permite vivenciar cada manhã esta sinfonia natural. A natureza em festa, celebra o Deus Criador!

Quis trazer presente comigo esta linda oração proposta pelo Papa Francisco, por ocasião de sua Audiência Geral no Vaticano: “Senhor, aquilo que quiser, quando quiser e como quiser!”. Gratuidade frente a Deus, numa entrega confiante a ELE. O Senhor é fiel sempre! Esta foi uma das primeiras coisas de nosso bispo Pedro que me chamava particular atenção. Sua oração contemplativa, diante do Deus do Ressuscitado. Eu, com a minha inquietude, admirado de ver aquele homem revolucionário e “rebelde”, com toda a serenidade, no seu dialogo direto com Deus. Nestes momentos eu vivenciava a mesma experiência de Lucas: “Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência.” (Lc 9, 29)

Mais tarde fui entender porque aquele homem tinha tamanha força e entrega às suas causas: sua sintonia com a “Testemunha fiel.” Nesta mesma entrega que nos fala Francisco, Pedro tinha o seu jeito peculiar de se entregar confiante nos planos de Deus: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”. Este foi um dos seus lemas de vida frente à Prelazia de São Félix do Araguaia. Esta era a postura como fazia questão de viver e que tanto incomodava os seus perseguidores. Na simplicidade de seu ser, fazia brotar uma força descomunal que fazia tremer os seus algozes.

Hoje é um dia especial para aqueles e aquelas que não esqueceram de suas raízes. A contragosto de alguns, que não se identificam com este dia, pois ainda veneram a princesa branquela que “libertou” os escravos da escravidão. Ganga Zumba, primeiro grande líder do Quilombo dos Palmares, festeja e comemora na sua ancestralidade, esta importante data para o povo negro. Zumbi está mais vivo do que nunca, principalmente nestes tempos bicudos, em que a corporeidade negra está sendo violentada e crucificada a cada dia.

O texto a seguir, retirado dos anais de nosso Santuário dos Mártires da Caminhada, aqui em Ribeirão Cascalheira/MT, Prelazia de São Félix do Araguaia, nos trás um histórico que poucos conhecem a respeito de Zumbi. Diz o texto: “Filho de escravos e educado por um padre, conseguiu fugir do cativeiro dos canaviais e se juntar, no Quilombo dos Palmares, em Alagoas, ao grupo de rebeldes, negros e até indígenas e brancos, que iam formando, frente ao regime da escravidão e da segregação, uma comunidade livre e fraterna.”

O Quilombo de Palmares foi um dos mais importantes da história e talvez o mais significativo deles. Durou cerca de 95 anos, sempre resistindo às investidas do Exército Brasileiro e das oligarquias ferozes dos coronéis do açúcar. O Dia da Consciência Negra é celebrado no dia 20 de novembro, pois foi nesta data que morreu Zumbi dos Palmares, no ano de 1695, tornando assim, um símbolo de resistência/resiliência do povo negro na história brasileira. Ele tinha os seus ideais de transformar o espaço onde viviam negros foragidos, indígenas e brancos pobres numa comunidade alternativa, onde predominava os valores de uma sociedade igualitária da partilha dos bens. Ou seja, o que um tinha, todos os demais também tinham em partes iguais. Versão esta que alguns historiadores mais conservadores não comungam, posto que ainda estão antenados e apegados a uma visão capitalista de vivência em sociedade.

Os ideais de Zumbi dos Palmares estão vivos e presentes na luta que se trava ainda hoje numa sociedade marcadamente racista e preconceituosa, que colocam os negros como seres inferiores. Neste clima de uma oração encarnada, de doação e entrega, que comecei o meu dia, recorro a um texto da Missa dos Quilombos, como forma de arrematar esta manhã: “Estamos chegando do chão dos quilombos, estamos chegando no som dos tambores, dos Novos Palmares nós somos, viemos lutar. (Pedro Casaldáliga e Milton Nascimento)