O profetismo de Jesus

Quarta feira da Quarta Semana do Tempo Comum. 31º dia do ano. Assim sendo, faltam 335 dias para chegarmos em 2025, já que este é um ano bissexto. Estamos no verão e a fase da Lua é Minguante, sendo que hoje ela está 71,84% visível e está decrescendo. Faltam dois dias para ela chegar à fase Quarto Minguante. Assim, janeiro vai dando o seu adeus, entregando o bastão ao mês de fevereiro. Se para a Igreja Católica, o mês de janeiro é dedicado ao Nome de Jesus de Nazaré, fevereiro é o da Sagrada Família de Nazaré. Que venha fevereiro e nos traga não somente o carnaval, mas muitas realizações para este nosso tempo (Cronos).

O dia 31 de janeiro é dia de festa para a comunidade Salesiana. Com ela, celebramos hoje a festa de João Melchior Bosco (1815-1888), ou mais precisamente Dom Bosco, sacerdote católico italiano, fundador dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora. São João Bosco é o Santo das Juventudes. Foi beatificado por Pio XI em 2 de junho de 1929 e canonizado pelo mesmo papa, em 1º de abril de 1934. O santo dos pobres, já que, ao entrar para o seminário, recebera de sua mãe a recomendação de que se fosse para ser um padre rico, não receberia a sua visita jamais. É também ele o santo Padroeiro dos educadores, jovens, estudantes e editores.

Se para o nosso Educador Maior Paulo Freire, “a educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”, para Dom Bosco, “a educação é coisa do coração”. Sintonia perfeita entre dois dos grandes educadores, cada qual a seu tempo. Se os educadores de hoje são chamados de “comunistas”, por levarem os seus alunos a “ler o mundo” e terem o seu próprio modo de pensar, Dom Bosco foi chamado de louco por muitos, devido à sua ousadia e entrega às causas dos empobrecidos de sua época, seguindo os passos de Jesus de Nazaré, mantendo o seu modo de pensar: “Eu respeito a todos, mas não tenho medo de ninguém”.

Por falar em educação que leva a pensar, a palavra “Nazaré”, é a chave de leitura para entendermos o contexto que a liturgia nos coloca no dia de hoje. Marcos inicia o seu texto dizendo que: “Jesus foi a Nazaré, sua terra natal” (Mc 6,1). Mais uma vez, Jesus voltando à sua origem, para ali dar continuidade ao seu Projeto Messiânico. Um judeu, nascido na periferia, cheio de saberes divinos, num dia de sábado, ensinando e praticando a Boa Nova do Reino, num lugar sagrado para a comunidade judaica: a Sinagoga. Como pode o filho da Dona Maria e do carpinteiro Seu Zé, querer ensinar aos escribas, mestres e doutores da Lei, como falar das coisas de Deus, se nem estudo para isto Ele tem? “O cara tá se achando”, diríamos nós hoje.

O profetismo de Jesus fala mais alto. Ele é o Homem-Deus. Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra natal. Entretanto, o profetismo segue na veia de Jesus e Ele fala e age com autoridade, pois vem de Deus. Embora admirados com o que Jesus falava, ensinava e fazia, não o reconheciam como o Filho enviado do Pai. Faziam chacota d’Ele: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo 1,46) Os próprios conterrâneos de Jesus se escandalizam: não aceitam e não querem admitir que alguém como eles, possa ter sabedoria superior à dos grandes e poderosos que os dominam. Para eles, o empecilho para a fé é o mistério da encarnação de um Deus que se faz pessoa humana, situado num contexto social: Nazaré, na Galileia. Lugar da ralé.

Nós também cometemos o mesmo erro que aqueles do tempo de Jesus e não reconhecemos n’Ele o grande profeta que veio morar no meio de nós, como o Batista mesmo havia dito. Também não sabemos reconhecer aqueles que caminham conosco na mesma estrada e direção. Em virtude de uma sociedade competitiva e consumista que temos entre nós, muitos dos nossos, absolutizam o “ter” ao invés do “ser”. A necessidade de ser maior e melhor que os outros, nos fazem mesquinhos e hipócritas. Acreditamos num Deus que é Pai e Mãe de todos, mas maltratamos ou invisibilizamos os outros nossos irmãos e irmãs, a beira do caminho.

Precisamos rever a nossa ideia de Deus e também a de Jesus. Qual é a imagem de Jesus que alimentamos na nossa fé? É o mesmo Jesus de Nazaré, filho de um casal pobre de trabalhadores da periferia? O Jesus que acreditamos se identifica com quais causas mesmo: a dos pobres e marginalizados? O Jesus a quem dedico a minha vida de fé é o mesmo que se afastou dos grandes palácios e dos templos da região central de Jerusalém, para se ocupar com a gente pobre, doente, marginalizada e fedida da Galileia? O profetismo deste Galileu, corre em minhas veias e move as minhas ações, enquanto seguidor e seguidora que quero ser d’Ele? Ou o Jesus que acredito é aquele que está crucificado na parede do templo, servindo apenas como objeto de adoração, sem encarnação na realidade sofrida do povo na sua luta diária? Repense você a ideia que tem a respeito de Jesus de Nazaré. As pessoas que encontram, de fato, com Jesus começam a conviver com Ele. E no decorrer do tempo vão descobrindo que Ele é o Mestre, o Messias, o Filho de Deus. Não sou profeta e nem filho de profeta, mas posso assumir em mim o profetismo do Profeta.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.